Não se consegue pensar em soluções diferentes perguntando sempre para as mesmas pessoas
“Não existe inovação sem diversidade. Você não consegue pensar em soluções diferentes perguntando sempre para as mesmas pessoas”. A frase foi dita por Dani Junco durante a Fintouch 2021, no painel “Diversidade e Impacto Social: Oportunidades financeiras e de transformação social”. Também participaram Lilian Natal e Anita Fiori. A mediação foi de Fernanda Ribeiro.
Segundo Junco, fundadora da B2Mamy, empresa que incentiva empreendedorismo materno, a questão da diversidade não tem a ver com inteligência, mas com repertório. Ela cita o exemplo de um produto sexual feminino no qual investiu recentemente e buscava outros investidores. “Era uma mesa cheia de homens, durante nossa reunião, eu precisava falar de vagina, sexualidade, lubrificação e liberdade feminina para captar dinheiro. É um mercado gigantesco, de US$ 45 bilhões, mas não basta dizer isso porque eles passam mais de 40 minutos chocados com a palavra vagina”, afirma.
Neste caso, ela diz que, só depois que os investidores conversaram com as suas esposas, eles viram que era algo que valia a pena colocar dinheiro. “Não é inteligente quando você não tem alguém que consumiria aquele produto envolvido na tomada de decisão. A diversidade é positivo para todos.”
Natal, endossando, diz que já fez pesquisas que mostram que 3% de fundos de ventures capital são liderados por mulheres. “O que acontece é que a mulher ouve a vida toda que tecnologia e inovação não são para ela. Mas são”, afirma. Outros dados que ela aponta são que times mais mistos levam 25% mais resultados para os negócios e que mais de 70% das mulheres já sofreram algum tipo de assédio na hora de captar investimentos.
Fiori concorda que os fundos liderados por mulheres também são os que dão mais resultados — apesar de serem minoria. “Na prática, times mais diversos realmente trazem mais retorno e eu sou prova disso porque vejo isso todos os dias em um portfólio de 52 fundos”, afirma. O problema é que a diversidade é difícil de ser alcançada com o sistema de indicação, no qual as pessoas indicam para o trabalho as que se parecem mais com elas.
“Você é um homem de mais de 40 anos da zona oeste de São Paulo, e aí tem o filho de um amigo que se formou em Harvard que tem uma ideia bacana, você vai investir nele porque sabe que está em casa e pode falar com o pai dele”, diz Fiori. “E então você olha seu networking e não tem nenhuma mulher e nenhum preto. O que estamos tentando fazer agora é forçar o networking porque a economia global perde demais com isso.”
Essa falta de diversidade se reflete nos unicórnios liderados por mulheres — o único no Brasil com uma cofundadora é o Nubank. Segundo Natal, isso tem muito a ver com as perguntas que são feitas para as mulheres na hora de conseguir investimento, como se elas têm filhos ou outros sócios homens. “Eu já ouvi isso quando estava sozinha fazendo pitch”, afirma. “Muitas mulheres reclamam de não ter uma rede de apoio nesse cenário.”
A solução é ir atrás. “Não adianta um fundo esperar que chegue a mesma quantidade de startups fundadas por homens e por mulheres. Não vai chegar porque 90% das startups são fundadas exclusivamente por homens. É preciso apoiar mais iniciativas”, diz Natal.
Fonte: PEGN