A integração de serviços financeiros com imobiliários abre uma nova fronteira no mercado
Nunca foi tão fácil comprar, vender ou alugar um imóvel no país. A mudança de casa tem como combustível estrutural o crédito habitacional com os juros mais baixos da história do país, que amplia o universo de pessoas que conseguem financiar a compra. Mas é resultado também de uma transformação digital que ganhou impulso com a pandemia.
Desde a pesquisa do imóvel desejado com as características mais específicas possíveis em sites especializados até a visita virtual, a assinatura do contrato e o registro em cartório, as etapas se tornaram acessíveis com poucos cliques. O mercado imobiliário chegou definitivamente à era digital.
O país já conta com 839 startups ativas dedicadas ao setor de imóveis, segundo levantamento da Terracotta Ventures, uma empresa de venture capital que investe no segmento. São as proptechs ou construtechs, com atuação concentrada em três áreas: as propriedades já em uso, a jornada para a aquisição do imóvel e o ambiente de obras.
É um crescimento acelerado que reflete o tamanho do mercado e seu potencial: o número de startups no setor aumentou 235% em quatro anos, quando o levantamento foi realizado pela primeira vez. Um dos principais objetivos é fazer o brasileiro trocar mais vezes de casa, destravando barreiras que hoje impedem que isso aconteça com recorrência, como o acesso a financiamento imobiliário, o custo de transação e a complexidade para realizar a compra e a venda.
“O brasileiro já está pronto para essa mudança de mercado. Ele já está sem paciência para as dores transacionais e a falta de transparência”, diz Mate Pencz, sócio-fundador da Loft, criada em 2018 ao lado de Florian Hagenbuch.
A Loft é um dos dois unicórnios do país que atuam no setor, ao lado do QuintoAndar, fundado cinco anos antes, em 2013, por Gabriel Braga e André Penha: são as startups avaliadas em 1 bilhão de dólares ou mais. No caso da Loft, para ser mais exato, 2,9 bilhões de dólares (cerca de 15 bilhões de reais), depois de uma rodada que captou 525 milhões de dólares em maio.
Loft e QuintoAndar guardam semelhanças em seus modelos de negócios e, principalmente, no propósito. Ambos nasceram com focos específicos que agora cederam lugar a uma estratégia de atuação mais ampla, inclusive sob o ponto de vista geográfico. Com o ganho de escala, acabam naturalmente expandindo a oferta.
Depois de se estabelecer em São Paulo e no Rio de Janeiro com seu modelo de compra, reforma e venda de imóveis, a Loft está ampliando o número de bairros nas duas cidades. Começou a operar em testes em Belo Horizonte e vai entrar em municípios da região metropolitana da capital paulista, como Guarulhos, Osasco e as cidades do ABC nos próximos meses. A base com cerca de 25.000 imóveis deve mais do que dobrar.
“Vamos aproveitar a capilaridade que imobiliárias e corretores possuem para integrá-los na cadeia para prestar um atendimento humanizado com uso de tecnologia”, diz Pencz. É a aposta em um modelo em que o conhecimento do corretor do bairro ou da cidade de médio porte é considerado um ativo fundamental para que a operação seja concretizada e proporcione satisfação para as partes.
Há três meses a Loft lançou um programa de incentivo a 100 corretores com melhor desempenho, com benefícios que vão de ajuda de custo de até 5.100 reais mensais a plano de saúde. “Queremos criar um sistema transacional integrado para ajudar as pessoas a encontrar não só o lar ideal como também o seguro residencial e o financiamento mais adequado”, afirma o sócio da Loft.
A startup também decidiu adotar uma ação agressiva e vai oferecer cashback (devolução parcial) equivalente a 3% do valor de venda de imóveis que sejam cadastrados por seus proprietários na plataforma. Os recursos que deixam de entrar são compensados pela venda de outros produtos para o cliente, como seguros relacionados à residência.
Como parte dessa estratégia, a Loft anunciou no início de julho a aquisição da CredPago, fintech especializada em oferecer garantias para quem quer alugar um apartamento ou casa. Com a operação, ampliou sua capacidade de oferecer produtos financeiros e sua rede de distribuição, uma vez que a startup tem mais de 16.000 imobiliárias como clientes em mais de 500 cidades.
A Loft passou a contar com o BTG Pactual (do mesmo grupo que controla a EXAME), que tinha 49% da CredPago, como acionista minoritário com 5% de seu capital. O plano é aproveitar a expertise do banco para estruturar novos produtos e provê-los com liquidez.
Outra aquisição encaminhada — que será anunciada nos próximos dias — será a de um “player relevante” na originação de crédito, ou seja, na ponta que viabiliza o pedido de empréstimo do cliente com as instituições financeiras.
Fonte: Exame