Gestoras de ativos olham para verticais de mercado, buscando aumentar suas chances de sucesso
Por Rennan A. Julio
Conversar com alguém que fala o seu idioma. É assim que Flávio Málaga, economista e professor de venture finance da escola de negócios Finted, define a relação entre fundadores de startups e fundos de venture capital que se concentram em um segmento. Esses VCs “nichados” são representados por gestoras de ativos que optaram por aprofundar suas teses de investimento em grupos como healthtechs, fintechs, agtechs, B2B ou impacto social.
“Ter um foco facilita a aquisição de conhecimento pela equipe do fundo sobre a vertical, aumenta o networking e melhora a eventual sinergia entre as investidas, fatores críticos para essa etapa de desenvolvimento da startup”, diz Málaga. Para o economista, estreitar o foco de atuação também propicia a atração de investidores. Uma desvantagem, contudo, pode ser o número baixo de investidas. “Se o fundo tiver poucas startups, a probabilidade de sucesso cai, porque as chances de exit ficam reduzidas”, diz.
Para os empreendedores, afirma, receber aporte de um fundo como esses pode facilitar a conversa – os investidores conhecem os players, a tecnologia e o valor das startups. “Os sócios devem levantar quem atua no seu nicho e explorar o networking para que, quando precisarem de capital, já sejam conhecidos entre os fundos do segmento.”
Conheça a seguir cinco fundos de venture capital que atuam em mercados de nicho:
DNA Capital
Criado em 2012 por Mario Sergio Ribeiro e Pedro Bueno, da família que controlava a Amil, é um fundo voltado para o mercado de saúde. A gestora tem um braço de private equity que aporta em empresas de grande porte, como Dasa e Viveo; e um de venture capital, voltado para healthtechs do Brasil e dos Estados Unidos. No mercado brasileiro, o fundo se concentra em startups de digitalização da saúde e que oferecem serviços escaláveis com tecnologia. No Vale do Silício, a busca é por startups ligadas a tecnologias disruptivas, como inteligência artificial, novas modalidades de exames e serviços inovadores. Até agora, a DNA Capital já realizou um total de 15 investimentos de venture capital. Recentemente, liderou a criação de novo fundo de R$ 300 milhões dedicado à healthtech brasileira Memed. “Nossa especialidade é impulsionar companhias que desejam liderar o futuro da saúde”, diz Luiz Henrique Noronha, responsável pela área de venture capital.
NXTP
É um fundo latino-americano focado em negócios B2B. Gonzalo Costa, cofundador da gestora, conta a PEGN que, nos últimos dez anos, o fundo se adaptou, partindo de uma tese mais generalista para focar em um nicho de mercado. Ao todo, já realizou aportes em mais de 200 empresas, entre elas startups como Nuvemshop, CargoX e Cobli. De 2018 para cá, voltou seus olhares para o mercado B2B. “Percebemos que esse era um mercado com muito potencial na América Latina, principalmente em áreas como computação em nuvem e SaaS”, diz. Em três anos, 13 startups B2B receberam aportes. “Estamos acompanhando uma mudança no ecossistema, com negócios cada vez mais maduros”, afirma Costa.
Synthase Impact Ventures
Criada em 2019, é uma holding de investimentos que mira startups de impacto. Foi fundada por Claudio Neszlinger, Rodrigo Hlavnicka e Daniel Prianti e já realizou dois aportes. Entre os diferenciais da holding estão características como pitches sem limite de tempo, análise minuciosa do propósito dos fundadores e exits mais à frente. As startups selecionadas devem, além de crescer e ter lucro, usar a tecnologia para mudar o mundo – seja no campo social ou no ambiental. Para o primeiro round de captação, os sócios definiram um número de 20 investidores e total captado de R$ 5 milhões. O valor de cada rodada varia entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão. Desde 2019, 94 empresas passaram no funil de pitches da holding, em que as startups em estágio muito inicial são eliminadas. “Precisamos de mais do que uma apresentação de PowerPoint. Queremos ver um produto no ar, um time em formação, com um empreendedor que já esteja delegando determinadas funções”, afirma Neszlinger.
QED Investors
As fintechs são o foco desse fundo criado em 2008. Olhando para negócios nos Estados Unidos, no Reino Unido e na América Latina, a gestora já investiu em companhias como Creditas, QuintoAndar, Loft, Cora, Hash e, mais recentemente, Solfácil. Em maio deste ano, o fundo foi considerado um dos mais tradicionais dos Estados Unidos e levantou um novo funding de US$ 12 milhões para fintechs em estágios seed e pré-seed na América Latina. Em entrevista a PEGN, Fábio Carrara, CEO e fundador da Solfácil, afirmou que o QED é um dos investidores mais fortes em fintechs do mundo. “Eles vão trazer muito know-how para consolidar a Solfácil como a marca líder em tecnologia e financiamento de energia solar distribuída no país.” Bill Cilluffo, head de investimentos internacionais do fundo, falou ao Business Wire que o movimento mostra o potencial do ecossistema de fintechs da região. “Estamos acompanhando esse crescimento e sabemos que é apenas o início”, disse o executivo.
SP Ventures
Fundada em 2007, a SP Ventures é uma gestora especializada nas agtechs (startups do agronegócio) da América Latina. No Brasil, lançou seu primeiro fundo em julho do ano passado e uma segunda captação em dezembro, quando fechou os aportes das startups Adisseo e Mosaic. O objetivo da gestora é que pelo menos 20 startups em fase de seed e pré-seed recebam cheques de até R$ 3 milhões. Uma das investidas foi a Traive, em novembro de 2020. À época, Ariadne Caballero, partner da SP Ventures, afirmou que a ideia do aporte era acelerar o crescimento do negócio. “Queremos ajudar a Traive a continuar empoderando o produtor, reduzindo os gastos com juros bancários, além de permitir que eles invistam em opções que acelerem o crescimento do seu negócio”, disse a executiva. Ao todo, o fundo já investiu em mais de 30 agtechs da América Latina.
Fonte: PEGN