Criada em 2016, a holding social quer transformar um dos roteiros turísticos mais importantes do Brasil no Vale do Silício brasileiro
Após retornar de uma visita ao Vale do Silício, o publicitário Paulo Rogério Nunes teve a ideia de transformar um dos roteiros turísticos mais importantes do Brasil na próxima capital da inovação: assim nasceu o Vale do Dendê.
Tendo como foco startups lideradas por jovens e mulheres negras de Salvador, o publicitário se uniu à relações públicas Ítala Herta, ao jornalista Rosenildo Ferreira e ao administrador de empresas Hélio Santos para criar, em 2016, a holding social. A missão era incentivar projetos inovadores e criativos, fazendo uma ponte entre o capital financeiro e as comunidades das periferias.
Apesar de a Bahia ser o estado mais negro do país, com 81% da população autodeclarada preta ou parda, faltam iniciativas estruturadas para aproveitar o potencial identitário e empreendedor das periferias. “Muitos investidores veem a questão racial apenas como uma questão política”, afirma Paulo Rogério, diretor executivo do Vale do Dendê. “Queremos mostrar que investir em diversidade também é inovar, uma oportunidade de identificar novos mercados que geralmente não são vistos por grandes fundos de investimento.”
Os negócios de impacto social já movimentaram cerca de US$ 60 bilhões no mundo todo, de acordo com um levantamento da ANDE (Aspen Network of Development Entrepreneurs). Na América Latina, os recursos destinados a empresas quem buscam retorno financeiro aliado ao retorno social ou ambiental cresceram 7,7% entre 2016 e 2017.
O Vale do Dendê criou sua própria aceleradora para apoiar novos empreendedores. Lançado em 2017 e com o apoio da Fundação Itaú e da Fundação Alphaville, o projeto selecionou startups que atuam com economia criativa e tecnologia em segmentos como moda, design de joias e turismo.
No primeiro edital, os 30 projetos pré-selecionados tiveram, durante dois meses, desde media training até mentoria para desenho do modelo de negócio e desenvolvimento pessoal com psicólogos e terapeutas. As dez startups finalistas ganharam espaço de trabalho gratuito por seis meses e a oportunidade de apresentarem seus negócios à rede de investidores da aceleradora.
Uma das startups selecionadas, a Interakt, foi criada em 2016 por um grupo de jovens empresários e desenvolve soluções tecnológicas para a gestão e segurança de automóveis. Em janeiro, lançaram um alarme inteligente, disponível como aplicativo de celular.
Outro projeto contemplado com o programa de aceleração, a Casa La Frida, idealizada pela empreendedora Livia Suarez, é um espaço cultural de encontro que busca incluir mulheres negras no mundo das bicicletas.
A Abebé Cosméticos, da engenheira química Jacqueline Bastos, cria produtos para cuidados corporais inspirados na cultura afro-brasileira.
Ítala Herta, diretora de operações do Vale do Dendê, cresceu em um bairro popular de Salvador e desde cedo teve contato com o empreendedorismo. Filha de pais comerciantes, ela enxergou no universo cultural da Bahia a importância e potencial dos empreendimentos sociais nas periferias.
“A tecnologia e a inovação ainda são temas muito distantes das periferias. O empreendedorismo social pode mudar isso, não só como uma saída para a crise política e econômica do mundo, mas como uma oportunidade de diálogo e consumo responsável”, diz Herta. “O foco do Vale do Dendê não é fazer o papel do poder público ou do poder privado, mas ser um interlocutor dessas possibilidades, uma plataforma para que esses negócios cresçam e que nossa cidade entre no radar dos investidores.”
Nascido na periferia de Salvador, Paulo Rogério construiu sua trajetória como empreendedor social em nome da diversidade. Em 2011, ganhou uma bolsa na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, para estudar Jornalismo e Novas Mídias. Paulo é afiliado ao Bekman Klein Center da Universidade Harvard, principal centro de pesquisa sobre internet no mundo.
Para Paulo, iniciativas de impacto social com estímulo ao empreendedorismo e à inovação são fundamentais para o empoderamento das periferias. “Essas comunidades nunca foram atendidas de acordo com suas necessidades. Nos últimos anos, houve um crescimento no potencial de consumo no Brasil, mas nunca se investiu na produção criativa e inovadora das periferias”, diz Paulo. “Muitas famílias conseguiram comprar eletrodomésticos, mas não tiveram acesso a crédito bancário ou investimentos para abrir um negócio.”
No ano passado, Paulo participou do encontro que o ex-presidente Barack Obama organizou no Brasil com líderes de inclusão social. Em seguida, foi convidado para palestrar na primeira conferência internacional da Obama Foundation, em Chicago.
Fonte: Época Negócios
Excelente iniciativa, vamos colocar nossos irmãos em um lugar que eles merecem através da criatividade e trabalho!