Sua empresa está cheia de “legalzices” como projetos de Transformação Digital, Open Innovation, Métodos Ágeis, Hackathons, Labs de Inovação e outros programas da moda, mas nenhum mudou a trajetória de sua organização?
Desde 2010, venho liderando o desenvolvimento de programas de inovação dentro de grandes empresas, mas foi só recentemente que percebi por que alguns programas são bem-sucedidos e outros estão falhando.
Depois de mergulhar profundamente em várias organizações ao longo da última década, agora entendo por que as iniciativas individuais de inovação estão sendo frustradas e por que o sucesso dos empreendedores exige heroísmo. Também consigo explicar agora por que as atividades de inovação geraram um “teatro” de inovação, mas poucas entregas. E também fica fácil explicar por que a inovação em grandes empresas não consegue se parecer em nada com startups. Mas o mais importante é que depois de vivenciar e participar de inúmeros projetos que deram certo e outros tantos que também não tiveram sucesso, agora é possível ter uma ideia bem mais robusta de como construir programas de inovação que fornecerão de fato produtos e serviços relevantes, bem como saiam do âmbito de “Projeto”.
Precisamos começar entendendo o que é o “Propulsor de Inovação” – a hierarquia dos esforços de inovação que surgiram em grandes organizações. O Propulsor de Inovação consiste em: Inovação Singular, Instrumentos, Ferramentas e Atividades de Inovação, Inovação em Equipe e Inovação Operacional.
Inovação Singular
A busca pela inovação dentro de grandes organizações não é uma invenção do século XXI. Desde que o conceito de empresa entrou em cena, surgiram indivíduos apaixonados que percebem que é possível fazer algo novo, não planejado e não programado. De encontro ao status quo dos processos, procedimentos e planos existentes, eles criam demonstrações e protótipos com esforços heroicos, que de alguma forma conseguem obter uma inovação.
Descrevemos seus esforços como “heroicos” porque todos os procedimentos e processos estabelecidos em uma grande empresa são projetados principalmente para executar e suportar o modelo de negócios atual. Do ponto de vista de alguém que gerencia uma organização de engenharia, fabricação ou operações, as inovações não planejadas e não programadas são uma distração, assim como um empecilho para os recursos existentes. (A melhor descrição que eu ouvi é que “inovação sem restrição é um ataque de negação de serviço em capacidades básicas”).
Finalmente, a maioria dos processos de inovação corporativa canalizam as “inovações” em “demo days” onde os inovadores enfrentam um comitê de aprovação/financiamento que decide quais ideias de inovação valem a pena perseguir. No entanto, sem quaisquer marcos mensuráveis para mostrar evidências da evolução do que a equipe aprendeu sobre a validade do problema, as necessidades do cliente, os pivots, etc., o melhor pitch e a demonstração mais chamativa geralmente vencem.
Em algumas empresas, os inovadores até têm grupos informais, ou seja, uma Aliança de Inovadores, onde podem trocar melhores práticas e soluções alternativas para o sistema (pense nisso como o grupo de apoio do inovador). Mas essas atividades de inovação são ad hoc e os inovadores não têm autoridade, recursos e processos formais para tornar os programas de inovação parte integrante de seus departamentos.
Neste cenário, existem dois tipos de pessoas que se engajam em grandes inovações nas empresas: Os Inovadores (aqueles que desenvolvem novas tecnologias, produtos, serviços, modelos de negócio ou processos); e os Empreendedores Corporativos (aqueles que descobriram como obter inovação através dos processos existentes da empresa). Embora alguns indivíduos funcionem como inovadores e empreendedores corporativos, qualquer programa de inovação de sucesso requer um indivíduo ou uma equipe com pelo menos esses dois conjuntos de habilidades.
Instrumentos, Ferramentas e Atividades de Inovação
Na última década, os inovadores perceberam que precisavam de instrumentos, ferramentas e atividades diferentes das tradicionais de gerenciamento de projetos usadas para novas versões de produtos, serviços, processos e modelos de negócio existentes. Eles adotaram apaixonadamente instrumentos, ferramentas e atividades de inovação que passaram a contribuir com os inovadores individuais para descobrirem o que construir, para quem construir e como criar protótipos e demonstrações eficazes.
Alguns exemplos de modelos, instrumentos e ferramentas de inovação que podemos considerar é a metodologia JPB, Design Estratégico, Business Dynamics, Funil da Inovação, entre outros. Empresas adoram também atividades de inovação desenvolvidas para startups como Hackathons, Incubators, Kickstarters internos, bem como Programas de Open Innovation e Espaços de Criação, que dão aos inovadores individuais um ambiente físico e tempo dedicados a construir protótipos e demonstrações. Além disso, algumas empresas criaram postos avançados de inovação (na maioria das vezes localizados no Vale do Silício, em Israel, na Coreia do Sul, no Canadá e em países nórdicos) para estarem mais próximas da tecnologia relevante e, em seguida, para investir, fazer parcerias estratégicas ou comprar.
Essas atividades fazem sentido em um ecossistema de startups (onde 100% da empresa está focada em inovação). Mas geram resultados decepcionantes dentro de empresas (quando 98% da organização está focada na execução do modelo de negócio/missão existente). Ou seja, a cultura acaba “engolindo a estratégia no café da manhã”.
Inovação em equipe
Em vez de apenas ensinar aos inovadores como usar novas ferramentas ou criar demonstrações, reconhecemos a necessidade de um processo que ensinasse todos os componentes de um modelo de negócio. Neste sentido, o próximo passo na educação empreendedora é ensinar às equipes um processo formal de inovação para coletar evidências que permitam testar se as ideias são viáveis, desejáveis e eficazes.
Em contraste com atividades de finalidade única, como Incubators, Hackathons, Kickstarters, etc, esses modelos ensinam o que é necessário para transformar uma ideia em um produto/serviço usando o método científico de teste e experimentação de hipóteses. Este processo enfatiza ciclos rápidos de aprendizado com rapidez, urgência, aceitação do fracasso como aprendizado e métricas de inovação.
As equipes conversam com mais de 100 beneficiários e interessados ao mesmo tempo em que criam produtos mínimos viáveis para maximizar o aprendizado e a descoberta. Eles deixam o programa com uma profunda compreensão de todos os obstáculos e recursos necessários para entregar / implantar um produto / serviço.
Inovação Operacional
À medida que as organizações evoluíram, inovadores individuais passaram a trabalhar sozinhos, adotando ferramentas e atividades de inovação. Ferramentas e atividades são componentes essenciais, mas por si só são insuficientes para construir um programa que forneça resultados importantes para a liderança.
Acredito que o próximo grande passo é fazer as equipes e líderes pensarem no processo de inovação de ponta a ponta – ou seja, visualizar todo o fluxo de como e de onde uma ideia é gerada (a fonte) até o fim, a implantação (como entra nas mãos dos usuários).
Mas onde estão em prática esses grupos? Em todas as grandes empresas existem grupos que resolvem problemas operacionais que percebem “eles não podem continuar assim” e / ou “nós precisamos fazer muito mais coisas” e / ou “algo mudou, e nós rapidamente precisamos encontrar novas formas de fazer negócios ”. Esses grupos estão prontos para tentar algo novo. O mais importante é que aprendemos que “algo novo” não é enfaticamente mais ferramentas ou atividades. Porque esses grupos querem uma solução de ponta a ponta.
*Juan Pablo D. Boeira é CPO do Innovation Center, Mestre e Doutorando em Design Estratégico e Inovação pela UNISINOS e Professor de Inovação e Tópicos Avançados de Marketing na UNISINOS E ESPM
Fonte: Época Negócios