A busca por novas competências e capacidades para inovar permitam o questionamento de velhas práticas, como por exemplo, produzir em escala
Na minha última coluna aqui no Whow!, escrevi sobre um e-mail enviado pelo CEO da Ambev a todos os seus funcionários comentando o processo de rejuvenescimento da companhia. Ao citar o “Okinawa Sea Salt Milk Ice Cream” como fonte de inspiração para sua direção estratégica na inovação de produto, o executivo deixou a dica para observarmos com mais atenção os ensinamentos da terra do sol nascente.
De fato, quando o assunto é longevidade e rejuvenescimento temos muito a aprender com o Oriente. Tanto na China quanto no Japão, o envelhecimento é reverenciado como fonte de sabedoria e respeito, tendo os familiares mais jovens a responsabilidade de cuidar dos anciãos.
Na cultura milenar asiática, os idosos são conselheiros experientes, têm grande importância nas decisões de seus grupos sociais e usufruem dos efeitos positivos de tal valorização expressos na costumeira vitalidade e participação ativa na sociedade. Uma lembrança marcante do período em que vivi na Ásia é, sem dúvida, a surpreendente energia e disposição dos idosos que, diariamente, praticam atividades físicas nos parques das cidades, e nutrem a criatividade e amizades com jogos de tabuleiro, longas conversas e gargalhadas.
Os paradigmas longevo-efêmero, novo-velho, rápido-devagar
Vale lembrar que há, também, grandes desafios nessa equação como, por exemplo, a drástica queda da natalidade em suas populações, e a incompatibilidade entre os anseios das gerações mais jovens (e mais ocidentalizadas) e os sacrifícios exigidos socialmente no cuidado com os familiares mais velhos.
“Porém, mesmo estando em constante transformação, as sociedades orientais convivem melhor com os paradigmas longevo-efêmero, novo-velho, rápido-devagar.”
Basta uma rápida busca na internet para encontrar os milhares de comentários de turistas sobre o ´Sea Salt Milk´, um sorvete único e, segundo eles, delicioso originário da ilha localizada no extremo sul do Japão.
A empresa detentora da marca, a Foremost Blue Seal, começou as suas operações em 1948 na base militar norte-americana da cidade de Gushikawa, na ilha de Okinawa, sob contrato com o governo dos EUA. Em 1978, recebeu a autorização do governo japonês para expandir suas operações além da província de Okinawa, e em 1990, a marca passou a fazer parte de um conglomerado holandês. Finalmente, em 2006, a expansão se acelerou com o início do sistema de lojas em modelo de franschise.
Sobre a visão empresarial e a singularidade dos seus produtos, o executivo-líder Sadaaki Araki destaca na mensagem de boas-vindas no website da marca: “Como uma empresa local, trabalhamos para fortalecer ativamente nossos laços com a comunidade e contribuir para a revitalização das indústrias de Okinawa. Graças ao apoio da população local, somos instantaneamente reconhecidos como uma marca de Okinawa…Para os nossos clientes mais antigos, oferecemos produtos que proporcionam uma sensação de nostalgia. Para os clientes mais jovens, oferecemos novos produtos que correspondem às estações e tendências, bem como uma variedade de outros produtos, conteúdo e sorvetes deliciosos para as necessidades exclusivas de cada pessoa.”
O histórico da empresa, sua comunicação e produtos variados, dos sorvetes tradicionais às edições coloridas que agradam e se conectam com a cultura ´Harajuku´, deixam claro que a Foremost Blue Seal é uma empresa expert em combinações: local-global, oriente-ocidente, modelo de franchise-foco em personalização.
Novas capacidades para inovar
A proposta de Jean Jereissati, CEO da Ambev, ao se inspirar no sorvete produzido em Okinawa tem um objetivo simples: a busca por novas competências e capacidades para inovar que permitam o questionamento de velhas práticas, como por exemplo, produzir em escala, buscar excelência e não ter ruptura, ao mesmo tempo que compreendem e respeitam o tempo das coisas, com menos ansiedade, mais sabedoria e confiança no direção traçada.
Para mim, sua proposta vai além da inovação de produto pois propõe a inovação de mentalidade e crenças que permeiam toda a organização.
A navegação em curso na Ambev é sobre a inovação que equilibra melhor agilidade e sabedoria, colaboração e interdependência. Uma inovação simbiótica – de fato –, que integra competências da empresa centenária com práticas comuns das startups. Uma inovação inteligente e corajosa que ousa unir oriente e ocidente, longevo e efêmero, novo e velho, rápido e devagar.
Fonte: Whow