Como a maioria dos negócios, o Gympass teve de se adaptar ao cenário de pandemia. A startup reúne 55 mil academias e estúdios para oferecer exercícios como benefício corporativo – e viu elas fecharem as portas devido à quarentena. Mas um fator a deu uma grande vantagem no ajuste a este novo cenário. O unicórnio já tinha planos de digitalizar ainda mais seus serviços e lançou, já no dia 20 de março, uma plataforma para conectar academias e usuários.
A vantagem competitiva, é claro, não elimina todos os desafios. Na segunda live da série “Aprendendo com os unicórnios”, Priscila Siqueira, CEO do Gympass, falou sobre os bastidores da pivotagem da startup neste período. A série de transmissões ao vivo traz como convidados criadores e CEOs de startups com avaliação de mercado bilionária. Nas conversas, eles trazem aprendizados e dão dicas de como empreendedores podem superar os desafios trazidos pela pandemia.
Digitalização múltipla
Antes do coronavírus, o plano do Gympass era lançar uma plataforma digital para expandir os serviços oferecidos aos usuários. Ela reuniria uma gama de aplicativos voltados a atividades diversas, da nutrição à meditação. Com o fechamento das academias, a startup viu que precisaria expandir a solução para trazê-las ao universo digital.
A plataforma lançada em março uniu as duas propostas. Os usuários podem tanto acompanhar aulas online das academias quanto incluir em sua rotina as atividades propostas por aplicativos. Hoje, são mais de 40. “Por último, trouxemos os personal trainers. Eles estavam nos planos, mas a longo prazo”, diz Priscila.
O engajamento das academias e dos profissionais foi fundamental para o modelo dar certo. O diálogo com os clientes, também. No modelo do Gympass, a empresa investe uma parte do valor e o colaborador arca com o restante. “A primeira reação das empresas foi querer saber como poderíamos ajudar. Afinal, muitas colocaram as pessoas para trabalhar de casa”, diz ela. A oferta de conteúdos voltados à saúde mental e ao bem-estar foi um dos atrativos.
Plano de ataque
A pivotagem também envolveu ajustes internos. A startup começou dividindo equipes entre dois comitês: um de defesa e um de ataque. No primeiro, o foco era garantir que a empresa passasse pela crise – olhando, por exemplo, para questões financeiras. No comitê de ataque, o objetivo era entender como continuar atendendo clientes e usuários da melhor forma.
“Apesar de o Gympass estar maior, não perdemos o mindset de startup, de agilidade. “Como temos times de desenvolvimento no Brasil, em Portugal e em Nova York, trabalhamos, literalmente, 24/7, diz a CEO. Ela ressalta, porém, que agilidade não deve ser sinônimo de falta de planejamento. “Temos que ser flexíveis o suficiente para atender a necessidade do mercado naquele momento, mas estruturados como empresa para não criar um Frankenstein.
Sem perspectivas sobre a reabertura das academias, as finanças se tornaram uma grande preocupação. Uma das medidas tomadas para ajustar os custos foi a demissão de cerca de 20% da equipe. A startup buscou, então, apoiar esses funcionários de diferentes formas. Uma delas foi recorrer a empresas de recrutamento para garantir que elas se realocassem no mercado o mais rapidamente possível.
De olho no mercado – e vice-versa
O compromisso com clientes e equipes é apenas um dos lados da moeda. Com investidores e acionistas na conta, a tomada de decisões ganha novos elementos. Segundo Priscila, cada um deles está atento a um fator diferente. Investidores olham para a capacidade de execução e crescimento. Já o acionista observa a rentabilidade. A melhor maneira de mostrar potencial é apresentando números.
Quem pensa em buscar dinheiro no mercado, segundo ela, também deve saber que o dinheiro já não é tão fácil de conseguir quanto costumava. A CEO ressalta que investidores costumavam apostar mais em produtos em fase inicial, mas com potencial. “Hoje, é preciso mostrar que o que você está fazendo tem a capacidade de escalar e ser exponencial.”
Passada a pandemia, Priscila acredita que a preocupação com a saúde continuará expressiva – assim como a busca por serviços e soluções que a beneficiem. Ela diz que o tema já estava na mira de empresas e pessoas e, agora, ganhou mais um estímulo. “A partir dessa crise, ninguém mais vai poder não ter uma iniciativa de saúde e bem-estar.”
Fonte: PEGN