Empreendedores brasileiros são pouco ambiciosos em relação ao impacto que podem causar em âmbito global. A afirmação poderia soar leviana se não partisse de Fabricio Bloisi, que rompeu essa lógica no comando da Movile. A startup brasileira fundada por ele cresce 40% ao ano, é líder na América Latina em aplicativos e conteúdos para smartphones e vista pelo mercado como principal candidata a se tornar o primeiro “unicórnio” – como são chamadas as empresas novatas que atingem valor de mercado de US$ 1 bilhão – do País.
Apesar de não revelar números, a Movile já é identificada hoje como maior startup brasileira. Grandes aquisições e o fato de ter recebido cerca de US$ 150 milhões de fundos de investimentos são alguns indícios que corroboram essa tese. Além disso, a companhia já tem escritórios em oito países e mais de 1.500 funcionários.
Com mais de 70 milhões de usuários por mês em seus aplicativos, como PlayKids, Sympla e iFood, a Movile é o grande exemplo de brasileira que teve êxito em se internacionalizar. Mas a pressão para se tornar o primeiro unicórnio do País não atinge Bloisi. “Acho que pensar nisso é pensar pequeno”, afirma.
Ele cita empresas que começaram desconhecidas e hoje valem entre US$ 10 bilhões e US$ 100 bilhões, como Snapchat, Instagram e Uber. Para ele, o Brasil tem potencial para ter algumas startups com esse valor, mas para isso os empreendedores precisam pensar realmente grande.
Embora reconheça que o ambiente do Vale do Silício, nos EUA, é mais propício a inovações e negócios, Bloisi acredita que o Brasil tem empreendedores tão bons ou até melhores que os de lá, mas com uma diferença grande. “Lá eles pensam muito maior, em impactar o mundo.”
Com quase vinte anos de existência, a Movile ainda é considerada uma startup por seu fundador. “Temos o pensamento desse tipo de empresa. Fazemos as coisas rapidamente e tomamos muito risco”, afirma. Segundo ele, esse é o segredo de seu sucesso: errar muito e agir de forma rápida.
Internacionalização
Com ampla experiência no mercado internacional em razão do PlayKids, aplicativo na lista dos que mais monetizam em países como Austrália, China e Estados Unidos, Bloisi deu dicas sobre o assunto na edição 2016 da Conferência Anual de Startups e Empreendedorismo (Case), principal evento do setor no Brasil, realizada nos dias 7 e 8 de novembro, em São Paulo. O nome da palestra – Jogando War com a Movile – relacionava a habilidade da empresa em expandir sua atuação com o jogo de tabuleiro que tem como objetivo conquistar novos territórios.
Um dos conselhos é simplesmente pensar grande. Bloisi citou como exemplo a sua empresa. “Quero ter 1 bilhão de usuários e o valor de US$ 10 bilhões”, afirmou. Bem-humorado, brincou com a plateia ao dizer que não sabe ao certo como chegar a esses indicadores, mas acrescentou que o primeiro passo é justamente não pensar de forma limitada.
O empreendedor assume que já foi menos ousado em relação ao valor. “Antes a meta era valer US$ 1 bi. Mas, quando vimos que estávamos perto de atingir isso, ampliamos o objetivo.
Bloisi também acredita que uma obrigação para os empreendedores diferenciados é aprender com os melhores. Para isso, citou que é possível obter informações gratuitas na internet e até cursos de Stanford que podem ser acessados em poucos cliques. “É um clichê, mas vejo que quase ninguém vê essas informações.” Ele afirmou que, ao entrar num negócio, obrigatoriamente estuda o segmento no mundo inteiro.
O fundador da Movile assume os erros que cometeu. “Ao internacionalizar, a empresa precisa ir forte para o local”, afirmou antes de contar que falhou em vender para a Europa e em se expandir para a América Latina por não ter equipe pronta e estruturada para o caso de rápido sucesso.
Outro conselho é investir por 24 meses no exterior antes de exigir retorno. Apesar de pregar rapidez nos processos, ele é cauteloso ao observar os resultados da prospecção em novos mercados e confessa outro fracasso. “Eu tentei ganhar dinheiro no México depois de um mês e me dei mal”, conta.
Por último, afirma que ser global também é ser local. Segundo ele, é importante ter uma equipe com funcionários nativos e se associar com empresas e/ou investidores do país em que se deseja atuar.
Fonte: DCI