Com a contratação de diversas startups, parcerias com o Cubo Itaú e programas de aceleração com a Endeavor, o Grupo Pão de Açúcar, GPA, investe na transformação digital de seu negócio, não apenas entre as fileiras dos supermercados mas também em processos como logística e contratação de novos funcionários. “Estamos chegando ao conceito de novo varejo. Vai desaparecer a fronteira entre o online e o offline”, diz Otávio Thomé, gerente de inovação do GPA. “A última onda do e-commerce chegou, com o varejo alimentar.”
O executivo se refere à chegada de novas categorias no comércio eletrônico. Se a primeira onda das vendas online foram eletrônicos e eletrodomésticos, a segunda onda é o aumento da venda de roupas, sapatos, livros e outros itens. A última onda representa as vendas de itens mais perecíveis, como alimentos e bebidas – e é aí que entra o time de inovação do GPA.
Desde o início da pandemia, o supermercado ficou mais digital. Não apenas varejistas como o Grupo Pão de Açúcar e Carrefour entraram de vez nas vendas online, mas marketplaces como o Mercado Livre e Amazon estão investindo na venda de alimentos, bebidas, cosméticos e outros itens menores.
Novos alimentos, como os da marca Moti-Moti, de doces da massa japonesa mochi com sorvete, também foram criados por startups para a venda nos supermercados do grupo. Serviços, como o Retbrella, para compartilhamento de guarda-chuvas, e totens da plataforma Getninjas, para contratação de serviços de limpeza, churrasqueiros e reformas, são alguns exemplos, assim como a PetParker, uma casinha para deixar cachorros e gatos enquanto o dono faz compras.
Inovação no back office
Há outras startups presentes em áreas mais escondidas do grupo, como o back office e logística. A Gupy, startup de recrutamento, digitalizou o processo de contratação de novos funcionários. Essa rapidez foi essencial no período da pandemia, depois que o GPA afastou colaboradores do grupo de risco do trabalho presencial, precisou contratar 5.000 – mil apenas para o comércio eletrônico. Em apenas dois dias com a plataforma no ar, mais de 50 mil candidatos se inscreveram.
Outra inovação interna é a divulgação de informações sobre o negócio em tempo real, com a startup LooqBox. A plataforma funciona quase como o Google da rede de supermercados. Gerentes de loja podem entrar na ferramenta e pesquisar, por exemplo, qual é a margem média das vendas nas lojas em determinada região, ou em uma loja específica. Mais de 2.000 funcionários têm acesso a esses relatórios em tempo real, com dados como vendas, margem, estoque e outros ainda em desenvolvimento.
Além de novos negócios, as parcerias também podem trazer mais eficiência para áreas internas da empresa. A partir de um desafio proposto no Cubo, a startup Everlog passou a realizar uma auditoria no valor dos fretes cobrados pelas transportadoras que abastecem os centros de distribuição. No primeiro mês do projeto, a startup identificou 12 mil reais em economias, na diferença entre o frete cobrado e a possibilidade mais barata possível.
A pandemia do novo coronavírus impediu a realização de eventos presenciais e a colaboração em espaços de inovação como o Cubo – a interação entre pessoas de diferentes startups e a mentoria de grandes empresas alocadas nesses espaços eram os seus principais atrativos. No entanto, Thomé acredita que as conversas com as startups se intensificaram. “Vemos muita colaboração nesse momento de pandemia, entre grandes empresas e entre as empresas e o ecossistema empreendedor”, diz.
A empresa irá patrocinar três programas de aceleração da Endeavor. “Manter o investimento no mercado empreendedor é o dever de grandes corporações, como nós, em tempos de crise, considerando os benefícios que já tivemos com essas startups”, diz Thomé.
Dentro de casa
Além da inovação externa, o grupo tenta trazer essa mentalidade para dentro de casa. A empresa criou uma área dedicada a inovação em março de 2017, em 2018 criou o programa de aceleração para startups e em 2019 firmou uma parceria com o Cubo, ambiente de inovação do banco Itaú. Mas entendeu que, se o objetivo era que toda a empresa fosse inovadora, isso não era o suficiente. Nos últimos meses, o grupo se dedica a expandir o conhecimento para outras áreas. “Antes esse conhecimento estava muito concentrado em apenas uma área”, diz o gerente.
Desde o início do ano, foram feitos 12 eventos na empresa, com diferentes grupos, para entender quais são os problemas e as possibilidades de melhoria e de novos modelos de negócio. Cerca de 18.000 funcionários recebem uma newsletter com os assuntos dessas reuniões e outros temas de inovação.
A área de inovação também forma turmas de embaixadores, pessoas de diversas áreas da empresa que devem levar os conceitos de inovação para suas respectivas equipes. Esses 29 embaixadores identificaram 56 oportunidades de novos produtos, melhorias de processos e oportunidades de digitalizar áreas da companhia. O grupo investe para não perder a onda da transformação digital – e nem do crescimento do e-commerce alimentar durante a pandemia.
Fonte: Exame