Em 2012, executivos do Alibaba desembarcaram em Curitiba para negociar com uma pequena startup que haviam encontrado pelo Google. A cidade estava fora do radar da inovação; mas os chineses fecharam o contrato que abriria as portas do Brasil para o Aliexpress com a Ebanx. A fintech hoje faz parte de uma espécie de “Liga da Justiça” das startups curitibanas. Empresas que cresceram, ganharam projeção internacional, e pavimentaram o caminho para uma nova geração de empreendedores.
Por aquela época, Marcel Malczewski — que nos anos 1980 fundou a Bematech, startup que virou uma grande empresa de tecnologia — começou a mentorar alguns jovens “startupeiros”. “Eles chegavam aqui e sequer pesquisado se aquila ideia já existia em São Paulo ou Nova York”. Havia muita imaturidade.
Mas isso mudou rápido. As ideias ruins começaram a desaparecer, e projetos mais consistentes, a pipocar. Na primeira metade da década de 2010, Curitiba viu nascer Ebanx, Contabilizei, Já Entendi, Olist, Pipefy, Beauty Date, Hi Technologies. A MadeiraMadeira é de 2009.
É uma turma que está voando alto. Com mais de 300 funcionários, a Ebanx recebeu, em janeiro, um aporte de R$ 95 milhões de um fundo americano (o primeiro deles no Brasil). A MadeiraMadeira ocupa seis andares de um prédio no Centro da cidade — e tem planos de faturar R$ 1 bilhão em 2019.
As curitibanas atraem atenção de gigantes do Vale do Silício. O fundo Redpoint A., que tem nomes como Netflix e Zendesk no seu portfólio, fez um aporte na Pipefy. Fundada em 2015, a startup oferece soluções de gestão para oito mil empresas em mais de 140 países. Um terço dos seus clientes é dos Estados Unidos. A empresa nasceu dentro de uma das maiores aceleradoras do mundo, a 500Startup, no Vale do Silício.
O Kaszek Ventures, dos fundadores do Mercado Livre, investiu na Contabilizei. Primeira empresa a prestar o serviço de contabilidade online, no Brasil, a startup têm foco em pequenas e micro empresas. Hoje são cerca de 200 funcionários (a grande maioria em Curitiba) para atender os mais de cinco mil clientes.
Em sua gênese, a Olist foi uma lojinha de artesanato no shopping Omar, no Centro de Curitiba. Hoje é uma das maiores lojas virtuais do país. A startup tem mais de 2 mil lojistas cadastrados, e vende dentro dos maiores marketplaces do país, como Walmart e Submarino. A Olist já recebeu investimento dos fundos Redpoint eventures, Valor Capital e da 500Startup.
Amadurecer foi preciso
Com uma média de cinco anos de existência, as startups pioneiras de Curitiba fizeram a lição de casa. São empresas com base tecnológica, um custo de operação proporcionalmente baixo, e alta capacidade de ganhar escala.
Não foi mera coincidência que todas pipocaram na mesma época. Marcel Malczewski, que acompanhou o processo primeiro como observador e, depois, como investidor, acredita que dois fatores foram necessários. Os projetos ficaram mais consistentes e os empreendedores, melhores.
O puxão de orelha que veio de Israel
A trajetória dos fundadores demonstra isso. Antes da Pipefy, Alessio Alionço criou uma startup de compras coletivas voltada para o público de Curitiba. Quando tentou escalar, era tarde demais. Aos 24 anos, o empreendedor foi estudar Israel. O país, que enfrenta uma série de conflitos geográficos e tem população similar à do Paraná, é um dos imprescindíveis hubs de inovação do mundo, rivalizando com o Vale do Silício, na Califórnia.
“Todo empreendedor em Israel pensa em vender para os EUA, para a Europa, desde o primeiro dia. No Brasil vocês não fazem isso porque são preguiçosos. Se acomodam com um mercado local gigante e são preguiçosos”, Alionço ouviu, de um mentor da aceleradora israelense NESTech. A crítica doeu na alma. “Porque ele estava me descrevedo”.
Alionço forjou a Pipefy na 500 Startups, uma das três imprescindíveis aceleradoras do mundo. Em seu primeiro pitch (apresentação do projeto) foi expulso do palco pela desorganização e inglês capenga. Terminou como melhor da turma, e com investimento de capital semente que era quase o dobro do praticado no Vale do Silício, na época. A Pipefy já nasceu global. Hoje, um terço dos clientes da empresa estão nos Estados Unidos.
A história se repete. Tiago Dalvi começou com uma loja de artesanato. Foi na 500 que mudou totalmente o modelo de negócios e surgiu a Olist. Alphonse Voigt, da Ebanx, empreendeu em série até os 37 anos, quando criou a startup. Vitor Torres fundou a primeira aceleradora do Paraná, encubou a Contabilizei, e acabou fazendo da startup seu principal negócio.
O potencial adormecido de Curitiba
Cidades como Florianópolis, Belo Horizonte e Campinas se consolidaram como polos de startups muito antes de Curitiba. Com profissionais qualificados, empresas de tecnologia consolidadas e uma tradição para inovação, o sentimento de muita gente é de que a capital paranaense podia entregar mais, como ecossistema de inovação.
Em 2016, Curitiba amargou um mediano 15.º lugar no ranking das cidades mais empreendedoras do país, elaborado pela Endeavor. No ano passado houve um salto de 11 posições: a capital paranense subiu para 4.º lugar.
“É um bom indício de que estão ocorrendo melhores, numa análise macroeconômica”, avalia Marco Mazzonetto, coordenador da Endeavor no Paraná. Além disso, a consolidação dessas empresas de alto crescimento “ajuda na moral do empreendedor local”, além do “branding da cidade”. gera-se um ciclo virtuoso, em que o capital (financeiro e humano) começa a valorizar a cidade gradativamente.
Ter dinheiro disponível é um fator relevante. Quando saiu da Bematech, Marcel Malczewski queria investir só em empresas de tecnologia já consolidadas. Abriu espaço para startup, em parte, por sentir que precisava ajudar a nova geração. além disso hoje, sua M3 é a única empresa de venture capital (capital de risco) curitibana. Mas investidores locais, inclusive ligados a setores tradicionais da economia, começam a abrir os olhos para startups. O dinheiro de fora igualmente é bem vindo. “Hoje tem investida nossa que já escolhe de quem vai pegar dinheiro”.
“O grande contratempo, quando começamos a empreender, era o espaço temporal entre as empresas de tecnologia. Tinha a Positivo, a Bematech, e as outras nasceram muito tempo depois”, avalia Marcus Figueiredo, CEO da Hi Technologies. A startup, que exporte seus produtos médicos para o mundo inteiro, vendeu 50% para a Positivo, em 2016. A veterana auxilia com estrutura de vendas e distribuição. Mas a startup, que tem cerca de 70 profissionais, atua de forma independente.
Fonte: Gazeta do Povo
Prezados, esta reportagem é da Gazeta do Povo e foi copiada indevidamente pelo Boa Informação. Se vão replicar nosso material, peço que, ao menos, utilizem a fonte correta https://www.gazetadopovo.com.br/economia/livre-iniciativa/empreender/as-startups-que-colocaram-curitiba-no-mapa-da-inovacao-cmpq3rvwakkrdsg68mhsqws1h/
Olá, Naiady, tudo bom? Obrigado por seu contato. Alteramos a informação da fonte para o link correto da Gazeta do Povo. Abraços!