A pandemia da Covid-19 desacelerou o ritmo de ofertas públicas iniciais (IPOs) nos EUA, especialmente no setor de tecnologia. Empresas levantaram US$ 10 bilhões com novos papéis em bolsa de valores entre janeiro e agosto deste ano com grande participação de biotechs. No entanto, o segundo semestre será bem mais movimentado em Wall Street.
Diversas startups já se prepararam para abrir o capital até o fim de 2020. São os casos de Airbnb, Snowflake Computing, DoorDash e Instacart. Juntas, as empresas estão avaliadas em mais de US$ 60 bilhões. A última semana de agosto foi marcada por uma série de pedidos por IPO nos EUA diante do otimismo do mercado norte-americano e as altas valuations no setor de tecnologia. Na lista estão a Asana, a Palantir, a Amwell, e a Unity, entre outras.
Em tempos de crise econômica global, é ainda mais importante ponderar se o anseio pela abertura de capital das empresas tech condiz com a estabilidade financeira do mercado – para além das especulações de Wall Street – e com a capacidade das startups entregarem resultado. Os casos recentes da Uber e Lyft ligam o alerta neste sentido.
As empresas por trás dos apps de mobilidade mais usados nos EUA eram avaliadas em US$ 120 bilhões e US$ 24 bilhões, respectivamente, antes do IPO em 2019. Hoje, as ações estão sendo negociadas as US$ 33 e US$ 30, o que reduz a capitalização de ambas as startups a menos da metade do esperado. Tanto Uber quanto Lyft nunca apresentaram lucro em suas operações, o que respalda a desconfiança dos investidores.
Existe, portanto, um descompasso entre o “hype” e a realidade dos IPOs das empresas de tecnologia norte-americanas. Segundo análise do Visual Capitalist, o retorno médio das ofertas de ações em 2019 no setor tech foi de 4,6% negativo. Para efeito de comparação, empresas de bens de consumo tiveram retorno positivo médio de 103%; no setor financeiro, foi de 31%. Já o pior resultado foi das companhias de telecom, que tiveram retorno negativo de 66%.
Surgem, neste cenário, alternativas para obter fundos que vão além do arriscado caminho tradicional do IPO. A listagem direta tornou-se uma opção viável para startups agora que o órgão regulador do mercado dos EUA permitiu que o processo, que dispensa intermediários na oferta de ações, fosse usado para levantar capital. Logo que houve a alteração nas regras deste tipo de oferta, as startups Palantir e Asana entraram com pedidos de listagem direta.
O WeWork, que em 2019 estava pronto para realizar seu IPO, desistiu da oferta pública de ações e continua dependendo do capital de risco. Em agosto, a startup levantou mais US$ 1,1 bilhão com o Softbank. Outra opção, normalmente em menor escala, é o equity crowdfunding: uma venda limitada de ações em plataformas fechadas. A Brewdog é a startup que obteve maior investimento com este modelo. Foram mais de US$ 80 milhões obtidos de centenas de milhares de investidores individuais.
No Brasil, a bolsa de valores também está movimentada, com mais de 40 empresas com ofertas públicas de ações agendadas para os próximos meses. No entanto, a lista é composta majoritariamente pelo mercado imobiliário, sem a presença de startups de tecnologia. Os investimentos de capital de risco no país somam quase R$ 1 bilhão ao longo do ano, uma queda de 49% em relação a 2019.
Fonte: The Shift