Bancos, operadoras de cartões de crédito, redes de varejo e empresas de saúde se unem a pequenas empresas para aprender a ganhar agilidade e a se adaptar à nova economia
Há cinco anos, quando poucos ainda conheciam expressões como startups, fintechs, insurtechs, agtechs, entre tantos outros “techs”, uma pequena empresa de meios de pagamento surgia, discretamente, no mercado de tecnologia voltada a bancos. Nascia, em São Paulo, a Hub Fintech, considerada uma das companhias com maior potencial de se tornar a nova unicórnio brasileira (empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão), título já conquistado recentemente por PagSeguro, Nubank e 99.
Não demorou muito para que a empresa de emissão de cartões de crédito e vale-presentes despertasse o interesse do bilionário Carlos Wizard Martins e de seu filho, Charles. Desde 2012, o empresário, fundador da rede de idiomas Wizard e dono de operações da KFC, Taco Bell e Pizza Hut, já desembolsou R$ 150 milhões para fazer a empresa crescer.
“A visão de negócios da família Wizard e o suporte financeiro recebido deles nos últimos anos fizeram a Hub multiplicar exponencialmente seus resultados e nos colocaram como parceiros estratégicos de gigantes que antes nos enxergavam como potenciais concorrentes”, afirmou Alexandre Britto, CEO da Hub Fintech e ex-executivo da Mastercard no Brasil.
Hoje em dia, a empresa, avaliada, em cerca de R$ 1,5 bilhão, é uma das principais parcerias da Visa, maior empresa de meios de pagamento do mundo, da rede varejista Magazine Luiza e de alguns bancos digitais, entre eles o Social Bank. “Nossa missão é levar novos conhecimentos às empresas parceiras e ajudá-las a inovar em um ambiente cada vez mais desafiador”, acrescentou Britto.
A Hub Fintech não é a única empresa a passar de concorrente a parceria de gigantes em inovação e tecnologia. Por iniciativa das próprias empresas mais maduras, há um movimento de aproximação entre grandes e pequenas.
Exemplo disso é a rede de laboratórios Fleury, que há quatro anos criou uma espécie de concurso entre startups de tecnologia e pesquisadores dedicados a encontrar soluções para o setor de diagnósticos médicos e que têm absorvido esses conhecimentos para aprimorar seus processos.
A última edição, em novembro, premiou o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), em São Carlos (SP), que, sob coordenação da pesquisadora Rosane Minghim e do doutorando Henry Heberle, desenvolveu nova tecnologia para diagnosticar, antecipadamente, os riscos do surgimento de câncer de boca. “O estudo vai ajudar profissionais a superar as atuais limitações do prognóstico, permitindo guiar as estratégias de tratamento personalizadas para pacientes”, disse a coautora do trabalho, a pesquisadora Carolina Moretto Carnielli, do Laboratório Nacional de Biociências.
Canais digitais
No entanto, não há setor mais antenado à proliferação das startups quanto o de bancos. O Bradesco e o Itaú são exemplos disso. Em vez de assistir de camarote o avanço dessas empresas, o Bradesco, em paralelo à criação da incubadora InovaBra, ecossistema de pequenas empresas de tecnologia, lançou na segunda metade de 2017 o banco digital Next.
O projeto contou a contribuição de algumas dezenas de parceiras do mundo do TI, além de profissionais de arquitetura, psicologia e até antropologia. Atualmente, das 26,1 milhões de contas-correntes ativas do banco, 14,5 milhões são digitais e movimentam mais de R$ 1,3 bilhão por mês.
Segundo o diretor-executivo do Bradesco Luiz Carlos Cavalcanti Junior, 95% das transações realizadas pelo banco já são realizadas pelos canais digitais, prova de que a inovação está, definitivamente, incorporada à rotina do mercado bancário brasileiro. “A ideia não é competir com ninguém no mercado, mas complementar nosso portfólio e oferecer aos clientes novas formas de atuação.”
Com esse mesmo raciocínio “se não pode vencê-lo, junte-se a ele”, o Itaú ampliou em agosto de 2018 a sede do Cubo, centro de inovação voltado para startups administrado em parceria com o fundo Redpoint eVentures. O novo espaço, no bairro paulistano da Vila Olímpia, tem 20 mil metros quadrados e capacidade para sediar 200 empresas iniciantes de tecnologia, recebendo cerca de 2 mil pessoas todos os dias.
“O mundo tem evoluído muito para um modelo digital e para isso é preciso velocidade, conexão e entregas contínuas para de fato oferecer uma experiência melhor em escala. Esse modelo não era empregado no banco, nem em empresas até poucos anos atrás”, destaca Ricardo Guerra, diretor-executivo de tecnologia do Itaú.
Expansão
De acordo com a Associação Brasileira de Startups (ABStartups), grande parte das startups brasileiras (70%) opera com um faturamento inferior a R$ 50 mil anuais. Aquelas que conseguiram se aproximar de grandes companhias, fatia que representa 6% do total, já conseguem faturar mais de R$ 500 mil por ano. E o potencial é gigantesco.
A entidade reunia pouco mais de 2,5 mil associadas em 2012, quanto foi criada. Atualmente, conta com mais de 4,2 mil empresas do gênero, dentro de um universo de 10 mil startups em operação no Brasil. Grande parte das afiliadas à associação está concentrada nos estados de São Paulo (31%), Minas Gerais (9%) e Rio de Janeiro (8%).
Fonte: Correio Braziliense