Nos últimos quatro anos, os investimentos em startups latino-americanas mais que quadruplicaram, segundo a Associação Latino-Americana de Private Equity e Venture Capital (LAVCA, na sigla em inglês). As rodadas de investimento têm se tornado cada vez mais comuns e maiores, especialmente depois que investidores internacionais como Softbank, Tiger Global Management e Naspers abriram seus olhos para empresas com potencial disruptivo em países como Brasil, Colômbia e México.
O crescimento vertiginoso do ecossistema de startups na América Latina é um sinal de que ainda há problemas enraizados na região que precisam ser resolvidos. A área financeira talvez seja uma das que mais possuem questões a serem melhoradas, como as desigualdades no sistema bancário e a burocracia para o pagamento de contas. A seguir, mostramos os cinco pontos de disrupção em que, de acordo com a NASDAQ, as fintechs têm para explorar na América Latina nos próximos anos.
Pagamentos Online
São vários os obstáculos que ainda impedem que os pagamentos online deslanchem na América Latina, incluindo a falta de autenticação tecnológica, os limites para transações entre países e a falta de acesso de boa parte da população ao sistema bancário.
De acordo com a NASDAQ, o percentual de adultos na América Latina que ainda não têm acesso a serviços financeiros regulamentados, como contas bancárias e cartões de crédito ou débito, chega a 65%. Sem conta bancária, sabemos, é impossível realizar pagamentos online.
Além disso, os sistemas de pagamento online construídos pelos bancos são incapazes de lidar com a demanda crescente de pagamentos e comércio online na região. Apesar de novas startups surgirem a todo momento com soluções para a área de pagamentos digitais, elas não conseguem se expandir devido à burocracia em seus países de origem. Alguns exemplos de sucesso, no entanto, dão esperança para o setor, como a mexicana Conekta e a equatoriana Kushki.
A brasileira Ebanx, nascida em 2012, já atua em oito países da América Latina. Um dos segredos do sucesso da empresa é justamente a facilidade para realizar transações com cartões internacionais, não importa de onde o pagamento seja feito.
Bancos
Quem já precisou resolver algum problema em banco no Brasil sabe o quão burocrática pode ser essa experiência. Esse problema parece ser recorrente em toda a América Latina, e se deve, principalmente, à falta de concorrência.
Segundo a NASDAQ, a maioria dos países da região possuem menos de dez instituições financeiras, o que as deixa desmotivadas para desenvolver melhores serviços, a preços menores. Basta olhar as taxas cobradas pelos tradicionais bancos brasileiros para manter uma conta corrente e realizar transações simples.
Esse ambiente hostil, no entanto, tem criado oportunidades para novos bancos no país (e em toda a América Latina). Bancos digitais como o Inter e o Nubank surgiram há relativamente pouco tempo, e devem seu crescimento exponencial ao fato de oferecerem acesso a serviços financeiros de forma simples e barata.
O Nubank é o banco digital mais usado e mais valioso do mundo, avaliado em cerca de US$ 10 bilhões depois de sucessivas rodadas de investimento lideradas pela chinesa Tencent. Os casos do argentino Ualá – que teve uma rodada de US$ 150 milhões liderada pela Tencent e pelo Softbank – e dos mexicanos Albo e Klar também ilustram o potencial desse mercado.
Com soluções simples e uma proposta inclusiva, essas novas empresas têm o potencial de estimular a concorrência no setor bancário da América Latina, e podem contribuir para a melhoria dos serviços financeiros e para a redução das taxas de juros.
Pagamento de contas
Aqui no Brasil, já é tradição: todo início de mês, as filas nos bancos e casas lotéricas ganham dimensões estratosféricas, devido ao número de pessoas que ainda se deslocam até esses locais para pagar suas contas. Nos Estados Unidos, no entanto, a maioria dos cidadãos já tem o hábito de quitar seus pagamentos de água, luz e internet, por exemplo, por meio do cartão de crédito ou do débito automático.
Como boa parte da população da América Latina ainda não possui sequer uma conta bancária, o problema do pagamento de contas parece não ter fim. Além do incômodo de passar horas em pé em uma fila, a falta de praticidade para colocar as contas em dia acaba gerando um outro problema: a inadimplência. Esses atrasos no pagamento podem fazer com que as pessoas tenham os serviços cortados e o nome incluído na lista de maus pagadores, gerando uma reação em cadeia em todo o sistema financeiro, como comprometimento do acesso ao crédito e desaquecimento do consumo.
Compra e venda de imóveis
Encontrar um local para morar tem sido cada vez mais difícil em todo o mundo, especialmente nas grandes cidades. Nos Estados Unidos, ainda que a burocracia para comprar ou alugar um imóvel também seja considerável, algumas iniciativas de startups já estão ajudando a reduzir os entraves.
Na América Latina, no entanto, muito ainda precisa ser feito nesse sentido. De acordo com a NASDAQ, a maior parte dos países da região depende dos cartórios para resolver a maior parte dos assuntos relacionados ao setor imobiliário, e o acesso ao crédito para a compra de imóveis também é bastante restrito.
Startups como a Emcasa, Loft e QuintoAndar – que recentemente recebeu um aporte de US$ 250 milhões do Softbank – têm tentado desburocratizar o setor imobiliário no Brasil. A colombiana La Haus, a mexicana Homie e a chilena Arriendo Asegurado também têm crescido em seus países de origem, mostrando que esse mercado ainda tem muito espaço para expandir, e que pode ser lucrativo.
Empréstimos
As altas taxas de juros e o acesso precário ao sistema financeiro são graves entraves à obtenção de crédito na América Latina. Como dito acima, a falta de concorrência desestimula os bancos a oferecerem melhores serviços para seus clientes, e as pessoas de baixa renda e pequenas empresas são as que mais sentem as consequências desse cenário, sendo obrigadas a recorrer a empréstimos caros e de curto prazo.
As startups de microcrédito têm surgido como alternativa para que mais pessoas tenham acesso a crédito de forma fácil, por meio de aplicativos, mas ainda não conseguiram desenvolver um modelo que ofereça juros mais baixos.
No Brasil, a plataforma Creditas tem usado dados eletrônicos para reduzir os custos de empréstimos. Já o OmniBank, da Colômbia, usa informações digitais para conceder empréstimos de até US$ 1 milhão para pequenas empresas, em menos de uma hora.
As startups latino-americanas estão competindo diretamente com empresas tradicionais, estimulando-as a oferecer serviços melhores a preços mais competitivos. Essa nova realidade pode ajudar empresas e cidadãos a ter acesso ao crédito de forma sustentável e, assim, estimular o consumo, fazendo a roda da economia girar.
Fonte: Whow