O Grupo Globo, maior conglomerado de mídia do país, tem um novo modelo de gestão de negócios. O desenho reformulado, que se tornará efetivo em janeiro, vai reunir TV Globo, Globosat, Som Livre, Globo.com e Globoplay em uma única empresa, que se chamará Globo. A diretoria de gestão corporativa, ou DGCorp, também está incluída no trabalho de unificação. As mudanças são decorrência do projeto UmaSóGlobo, iniciado em setembro do ano passado com o objetivo de preparar o grupo para o cenário da competição digital.
“Essa estrutura é a forma de adequar o jeito com que vamos operar à estratégia que já havíamos definido. O que fizemos foi adaptar o modelo operacional, incluindo os processos, a governança e a estrutura da empresa, à estratégia de ser uma companhia voltada ao consumidor, com diversos produtos digitais”, diz Jorge Nóbrega, presidente executivo do Grupo Globo. “Esse campo, o do relacionamento direto com o consumidor, exige novas competências da empresa.”
Os modelos tradicionais de TV não davam à Globo a possibilidade de contato direto com o consumidor final, que se tornou essencial na era digital, diz Nóbrega. Na TV aberta, o sinal de radiodifusão não permite essa interface; e na TV paga, os clientes são das operadoras de serviços, não dos criadores de conteúdo. Com a mudança de comportamento do público, que ganhou mais poder de decisão do que quer ver, o objetivo da Globo é tornar-se uma “media tech”, com foco tanto na produção de conteúdo como em tecnologias que permitam fazer ofertas de conteúdo mais adequadas ao público, com base em suas preferências.
As mudanças na Globo foram apresentadas por Nóbrega a 45 diretores na sexta-feira, no Rio de Janeiro. “Eles já começaram a se reunir com suas respectivas equipes”, afirma o presidente do grupo. Sob o desenho administrativo reformulado, onze pessoas vão responder diretamente a ele. “É bastante, mas menos que o número atual, porque estávamos sob um modelo híbrido”, afirma.
Toda a criação e produção de conteúdo — incluindo entretenimento, esporte e jornalismo — ficará concentrada sob a responsabilidade de Carlos Henrique Schroder. A orientação editorial do jornalismo continuará sendo exercida pelo Conselho Editorial do grupo, com a participação de Ali Kamel, diretor de jornalismo.
Paulo Marinho responderá pela TV Globo, com a gestão da rede de afiliadas e o portfólio dos canais de TV por assinatura, enquanto Erick Brêtas vai gerir as iniciativas digitais, como Globoplay, G1 e a “home” do portal Globo.com. A área de publicidade ficará sob a direção de Eduardo Schaeffer e a de estratégia e tecnologia será conduzida por Rossana Fontenele.
“Antes, cada empresa funcionava de maneira completa. Com a nova estrutura, todo mundo passa a depender de todo mundo”, diz Nóbrega. “É uma maneira mais moderna e ágil de trabalhar.”
Marcas como Globosat, que estão ligadas a empresas que deixarão de existir, tendem a desaparecer. As que estão relacionadas a produtos e serviços devem ser mantidas. É o caso de Globo.com, que deixará de ser uma empresa, mas permanecerá como portal de internet.
Com as alterações, o Grupo Globo passará a ser composto pela Globo unificada e outras três empresas. A Editora Globo, que edita o Valor, continuará sob a direção de Frederic Kachar, com gestão independente da nova estrutura, se reportando a Nóbrega. O Sistema Globo de Rádio será conduzido por Marcelo Soares, que acumula o cargo com a direção da Som Livre. Roberto Marinho Neto assumirá a liderança da Globo Ventures, na qual será responsável pelos investimentos diretos dos acionistas em novos negócios.
O projeto UmaSóGlobo, que conta com consultoria da Accenture, já tem mostrado resultados, diz Nóbrega. Em outubro, a companhia bateu recorde comercial para esse mês nos últimos quatro anos, devido, principalmente, a formatos de publicidade criados recentemente e novos produtos. No mês passado, também, o serviço de streaming Globoplay atingiu a meta anual de assinantes, antecipando uma marca prevista originalmente para dezembro.
A Globo planeja investir R$ 1 bilhão no Globoplay e em novas tecnologias em 2020, diz Nóbrega. A estimativa é que o número de assinantes do serviço de streaming cresça cerca de 80% no ano que vem. Há oportunidades diferentes para o Globoplay em relação a competidores como Netflix e Amazon Video. Essas empresas têm alcance global, mas estão concentradas em séries, enquanto a Globo pode agregar conteúdo diferente aos usuários brasileiros, como esportes e jornalismo, afirma o executivo.
Uma parte essencial dessa estratégia é o Globo ID, sistema de identidade digital que serve de porta de entrada para todos os serviços digitais da companhia. “O sistema é central nessa nova configuração porque nos mostra a jornada do consumidor”, diz Nóbrega. A base de dados padronizada, que permite segmentação mais precisa, já conta com 50 milhões de usuários.
O esforço de transformação digital não implica perda de importância da TV aberta. “A tecnologia vai favorecer [a radiodifusão]”, afirma Nóbrega. Até 2023, todos os novos aparelhos de TV terão conexão à internet porque os fabricantes deixarão de produzir os equipamentos sem essa função. Com o avanço da banda larga, estará aberto um caminho novo, com a possibilidade de transmitir anúncios publicitários para pessoas diferentes durante o mesmo intervalo comercial. A tecnologia já está em teste na Globo.
Fonte: Valor Econômico