Em meus artigos anteriores, comentei sobre como o conceito de open innovation, surgido em 2003 como uma teoria do professor norte-americano Henry Chesbrough, evoluiu para o conceito mais amplo de “gestão de ecossistemas de inovação”, e como essa gestão se provou essencial nesses tempos de pandemia que estamos vivendo.
Um claro retrato dessa importância se revelou com uma ação recente da 100 Open Startups, plataforma que nasceu da tradição de open innovation e passou a ser uma plataforma que permite, viabiliza e facilita a gestão de ecossistemas de startups para corporações.
Ao longo dos anos, a empresa tem trabalhado com um sistema de lançamento de desafios de inovação, com base em um processo bem estabelecido e maduro de mapeamento, avaliação, curadoria e matchmaking de startups para grandes empresas e, diante do alastramento da pandemia de Covid-19, percebemos uma convergência nessas demandas de inovação por parte das empresas. Assim, decidimos abrir a plataforma gratuitamente por algumas semanas, para que empresas, governos e sociedade civil lançassem seus desafios a partir de necessidades decorrentes da crise.
Em um mês de desafio aberto, um total de 118 entidades descreveram seus temas de interesse. A equipe da 100 Open ficou com a função de interpretar essas demandas e agrupar as que fossem similares. Como resultado, as necessidades descritas por essas entidades foram agrupadas em 13 desafios, para os quais mais de 1.189 startups declararam ter soluções. Entre os temas, estavam demandas de home office, mobilidade, saúde e tratamentos, cultura e entretenimento, varejo, comércio e logística, educação e informação, apoio a comunidades, entre outros. As entidades proponentes tiveram acesso à lista de startups interessadas em seu tema e puderam formalizar, por meio da plataforma, seu interesse em estabelecer uma conexão com a startup, o que chamamos de “match”.
Aumento do interesse na inovação aberta
“Uma observação interessante é que as entidades responsáveis por 80% desses matches são empresas que já possuíam experiência em trabalhar em redes ou com inovação aberta.”
Ou seja, entidades que já tiveram envolvimento com programas de open innovation e/ou relacionamento formal, com o ecossistema de startups, como ArcelorMittal, BASF, Procter & Gamble e Raízen, por exemplo.
Hoje, enxergamos claramente que o desafio foi um verdadeiro experimento desse novo conceito de gestão e um teste de maturidade dos ecossistemas de inovação. Como exemplo, os quatro temas que atraíram mais startups e geraram mais matches são relacionados a áreas com seu ecossistema de inovação mais maduro: home office e trabalho a distância; saúde e tratamentos; varejo, comércio e logística; e educação, informação e conscientização. Isso reforça a importância do trabalho de gestão do ecossistema de inovação, já que os mais maduros conseguem oferecer soluções mais rapidamente e de forma mais efetiva.
Por todo o Brasil, vimos emergir dezenas de ações de coordenação de soluções, com milhares de startups envolvidas. São soluções que estão moldando o “novo normal” do mundo pós-Covid-19 e provando, a cada dia, que temos um ecossistema de startups maduro e com densidade suficiente para atender às principais demandas do mercado – seja no contexto em que as ações são planejadas e controladas, seja em momentos como o que vivemos hoje, em que a imprevisibilidade se tornou a regra.
Fonte: Whow