Quando refletimos sobre os avanços tecnológicos, muitos de nós visualizamos um futuro distópico, excludente e dominado por robôs (inclusive existem inúmeros livros e filmes prevendo o fim da humanidade). No entanto é praticamente impossível ter uma previsão exata do que de fato vai acontecer em um século. O que tenho observado, olhando o lado mais positivo desta jornada, é que a inovação tecnológica pode também gerar mais qualidade de vida para milhões de pessoas em todo o mundo.
O Adam Robô, por exemplo, está democratizando o teste de visão pelo Brasil. O robô usa soluções de inteligência artificial para tornar extremamente simples a realização de um teste de visão. Atualmente, a cada 5 segundos uma pessoa fica cega no mundo e a cada minuto, uma criança perde a visão (Organização Mundial da Saúde – OMS), sendo que mais de 80% dos problemas relacionados à cegueira poderiam ser evitados. O projeto do Adam Robô foi criado pela startup Prevention, cuja missão é prevenir e evitar a cegueira, reduzir a evasão escolar, diminuir acidentes no trabalho e no trânsito, além de promover melhor rendimento na indústria.
A startup acaba de fechar parceria com o governo do Paraná e também está em negociação com o governo de São Paulo. “Os resultados de nossos testes se encontram em um big data coletado diariamente em mais de 210 cidades, de 26 estados do Brasil, além de dados advindos de outros países, como França, Costa do Marfim e Estados Unidos. Nossa meta é realizar 1 milhão de testes até o próximo ano, com dados coletados em várias partes do mundo”, explica Juliano Santos, idealizador do Adam Robô.
Luz para as dores crônicas
Outra ideia que promete revolucionar a saúde é o uso de luz para tratamento de dores crônicas e incapacitantes. Trata-se de um analgésico não-invasivo e sem qualquer efeito colateral. O projeto inédito nasceu da tese de doutorado do físico cearense Marcelo Sousa, que estuda a fotobiomodulação desde 2008, uma área da física médica que usa a luz para melhorar funções biológicas do organismo.
“Nos últimos anos, há evidências demonstrando que fotobiomodulação também é benéfica para o reparo da medula espinhal. O desafio da Bright Photomedicine para os próximos anos será o de criar remédios digitais, além de customizar e personalizar para cada caso e paciente. A inexistência de efeitos colaterais e eventos adversos associados à terapia por fotobiomodulação promoveu a aceitação não apenas da comunidade médica e terapêutica, mas também do público em geral”, explicou Marcelo.
Cuidando do doente de câncer
Além da Bright, existem muitas outras startups que buscam gerar maior inclusão e acessibilidade para pacientes que sofrem de doenças crônicas, genéticas, degenerativas, autoimunes ou multifatoriais. É o caso da Innovacare Health, que desenvolveu um software para gerenciar o cuidado oncológico de clínicas, hospitais oncológicos e operadoras e planos de saúde.
Hoje, a incidência do câncer no mundo aumenta drasticamente. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a doença deve atingir 29,4 milhões de novos casos em 2040, uma expansão de 63% nos próximos 20 anos. Muito se fala em novas terapias, como a imunoterapia e a terapia alvo, novas drogas e o alto custo do tratamento oncológico para o paciente e para os hospitais, mas a dificuldade que ambos enfrentam é o acompanhamento e monitoramento do paciente oncológico fora do ambiente hospitalar, sem esquecer de garantir maior conforto e evitar deslocamentos desnecessários ao Pronto Atendimento.
“Devemos levar a tecnologia para dentro de hospitais e clínicas, mas sem nunca esquecer o paciente. A humanização do paciente oncológico aliada à tecnologia é uma ferramenta estratégica eficaz para garantir a aderência dos pacientes ao tratamento, melhorar a qualidade de vida e, também, aumentar a expectativa de vida desse paciente”, explicou Fernanda Diacov, cofundadora da empresa.
Deficientes Físicos & Qualidade de Vida
Uma história de superação é a do fundador da Guiaderodas, Bruno Mahfuz. Ele desenvolveu uma ferramenta gratuita e colaborativa para consultar e avaliar a acessibilidade dos locais. Como cadeirante, sua motivação para criar a plataforma foi poupar frustrações advindas da falta de informação sobre a acessibilidade. “Qualquer usuário cadastrado pode, em apenas alguns minutos, responder a perguntas sobre acessibilidade de determinado lugar. Assim, quando alguém for até lá, poderá saber de antemão o quão acessível o ambiente é ou não”, explica Bruno.
Foram realizadas mais de 160.000 avaliações mundo afora e vale dizer que 80% dos avaliadores não declararam ter nenhum tipo de deficiência. Esse número mostra que a empresa está conseguindo sensibilizar a todos. “A maior parte das coisas foi construída em uma época em que não se pensava sobre o tema. Além do fato de a acessibilidade deixar a vida de todos mais confortável, nunca se viveu tanto quanto atualmente e a tendência é que a expectativa de vida continue aumentando junto com os avanços tecnológicos. Uma velhice digna passa pela acessibilidade”, disse Bruno.
Cadeira de rodas com reconhecimento facial
E falando ainda sobre acessibilidade, os irmãos Paulo Pinheiro e Cláudio Pinheiro desenvolveram um software que permite controlar uma cadeira de rodas por meio dos movimentos do rosto. Eles fundaram a HOOBOX Robotics, uma healthtech que usa reconhecimento facial para dar autonomia a cadeirantes. A empresa já passou pelo programa de aceleração da Startup Farm e firmou parcerias com o Hospital Albert Einstein (de SP) e a gigante americana Johnson & Johnson. “Nos próximos anos, diversos dispositivos médicos, de telemedicina e aplicativos de healthcare vão ter reconhecimento facial embarcado. A HOOBOX quer se tornar líder mundial dessa tecnologia para o mercado da saúde, criando produtos de impacto e ajudando grandes empresas a desenvolver seus próprios produtos usando a tecnologia e o selo HOOBOX”, explicou Paulo Pinheiro, cofundador da empresa.
Mas agora imagine transformar uma simples cadeira de rodas em algo motorizado. Foi exatamente isso que fez a KitLivre, uma startup que traz uma proposta bastante ousada para o mercado: transformar qualquer cadeira de rodas manual em um triciclo elétrico com design esportivo. O veículo híbrido dá maior independência aos cadeirantes, pessoas com mobilidade reduzida e idosos. “Quando proporcionamos autonomia ao cadeirante, refletimos na relação de interdependência dele com os seus familiares e amigos, com isso, refletimos em toda a comunidade em volta do cadeirante, proporcionando um conceito de liberdade amplificada onde todos se beneficiam”, disse Júlio Olivato, fundador da empresa.
Fonte: Startse