Executivas discutiram perspectiva com flexibilização das normas de “equity crowdfunding” pela CVM
Por Juliana Schincariol
A flexibilização das normas de “equity crowdfunding”, ou financiamento coletivo para empresas iniciantes, tem potencial para pelo menos triplicar esse mercado na visão das executivas que participaram da Live do Valor de sexta-feira. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu uma audiência pública para mudar a instrução 588, que rege o segmento, e o mercado agora aguarda a edição da nova regra.
A modalidade é voltada a empresas com receita anual até R$ 10 milhões. Pela proposta apresentada na audiência pública, o valor poderia chegar a R$ 30 milhões. Hoje, ofertas desse tipo podem captar até R$ 5 milhões, cifra que também poderá aumentar.
“O mercado deve continuar em ritmo de crescimento acelerado principalmente com a mudança da norma da CVM, que, pelo potencial de aumento de faturamento das empresas e volume das ofertas, pode crescer em pelo menos três vezes o nosso mercado. Vamos ter uma gama muito maior de boas oportunidades”, disse a presidente do Kria, Camila Nasser. Plataformas como Kria e beegin são responsáveis pelas emissões e respondem às questões regulatórias na CVM.
Entre 2016 e 2020, o valor das ofertas de crowdfunding aumentou dez vezes. Segundo a CVM, em 2021 foram realizadas até o momento 75 ofertas de equity crowdfunding, contabilizando R$ 137,5 milhões. O valor é 63% maior se comparado ao resultado de todo o ano passado, quando as emissões somaram R$ 84,4 milhões. Camila estima que este ano pode atingir R$ 150 milhões em ofertas.
Ao aportar dinheiro em uma rodada de investimento coletivo, o investidor recebe uma participação como sócio e tem direito parte do sucesso futuro da empresa. A atratividade de aplicar em startups é que elas podem ser disruptivas e apresentar crescimento acelerado. Ao mesmo tempo, o risco é alto.
Além da ampliação dos limites, há expectativa de abertura de um mercado secundário. Pela proposta apresentada pelo regulador, seria possível negociar títulos entre investidores de uma mesma emissora. Mas essa possibilidade não é trivial e o mercado não terá liquidez de uma hora para outra, disse a presidente da beegin e cofundadora do Grupo Solum, Patricia Stille.
“Não é porque vai haver mercado secundário que teremos liquidez da noite para o dia. Nessa lógica, temos uma preocupação muito grande com formação de preços, em garantir a diligência e ativos robustos para o mercado”, enumerou. Por outro lado, essa possibilidade de saída do papel traz muito mais recursos para todos. “O investidor quer ter mobilidade.”
Um projeto da beegin, Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP) e Finchain foi selecionado no “sandbox” da CVM para criar uma estrutura de balcão organizado para negociação de títulos emitidos por startups. A BEE4 busca empresas com faturamento anual de R$ 10 milhões a R$ 300 milhões. “Há alto nível de salvaguardas, controle e supervisão. O mercado secundário tem que evitar assimetria da informação. Não estou certa se todas as plataformas vão fazer e vão lançar modelos de mercado secundário, apesar de permitido, porque isso vai exigir novas camadas de controles”, disse Patricia.
Fonte: Valor Econômico