Para o Chief Data Officer da JCDecaux, dados não podem ser “uma estratégia”, e sim um caminho para chegar a algum lugar
Por Renato Müller
Nos últimos anos, com a disseminação do mantra “dados são o novo petróleo”, outro jargão passou a frequentar o mundo corporativo: “estratégia de dados”. Quem segue esse caminho, porém, apenas se perde, sem chegar a nenhum resultado palpável. Essa é a opinião de François-Xavier Pierrel, Chief Data Officer da JCDecaux, uma das maiores empresas de mídia out of home do mundo.
“Não existe uma coisa chamada ‘estratégia de dados’. O que você pode e deve fazer é usar os dados a serviço de sua estratégia de negócios”, afirma o executivo, que vem liderando o esforço de transformação digital da empresa nos últimos três anos. Para ele, a digitalização dos negócios precisa se basear em 4 pontos:
1 – Defina um objetivo
Quem quer avançar no uso de dados precisa entender onde quer chegar e como pretende percorrer esse caminho. “Toda empresa tem uma jornada, mas quando você sabe onde está e onde quer chegar, consegue criar um plano e fazer acontecer. Sem isso, os dados não geram valor”, diz.
Quando isso acontece, a questão é apenas definir qual é o melhor caminho para alcançar o objetivo. “Quando Michael Jordan tinha 16 anos, ele já tinha na cabeça que seria o melhor jogador de basquete do mundo. O que faltava era definir onde estudar e onde jogar na NBA. Mas o alvo já estava determinado”, afirma Pierrel.
No mundo corporativo e no uso de dados, não é diferente. “Você não pode usar os dados na esperança de que algo aconteça. É preciso inverter e usar os dados para chegar ao objetivo definido”, explica.
2 – Mude a receita
Dificilmente o caminho será uma linha reta. Por isso, é preciso ajustar a receita da inovação e da transformação conforme as coisas vão acontecendo. Ao mesmo tempo, é preciso ser rigoroso em relação às “condições obrigatórias” do negócio, como seus princípios e valores. “Os líderes precisam saber o que precisa ser mantido e têm que ser firmes com isso. Todo o restante pode ser ajustado”, comenta.
3 – Invista em seu DNA
Ao fazer a transformação digital do negócio, entenda o DNA da empresa e invista nele. “Não mude nada antes de entender a empresa, as pessoas e os processos. Você precisa identificar com quem é possível contar e o que terá que ser mudado ao longo do caminho”, diz. O recado de Pierrel é claro: proteja o propósito da empresa, respeite seu DNA, mas faça ajustes para adaptar o negócio aos novos tempos.
4 – Pessoas
Sem colocar as pessoas no centro de tudo, nada acontece. Afinal de contas, empresas são formadas por pessoas. “Você pode ter o melhor produto do mundo, contar com a melhor tecnologia, mas sem as pessoas certas você certamente ficará empacado”, afirma.
Pierrel diz que passou por esse problema na JCDecaux: o ímpeto inicial foi contratar pessoas que sabiam tudo sobre dados, mas que não conheciam os produtos e os clientes. “Não deu certo, é claro. Quando invertemos essa equação, conseguimos avançar mais rápido e passamos a obter melhores resultados, sem alienar parte do nosso time ou ficar aquém das expectativas dos consumidores”, revela. Uma dica: aposte no talento, mas não necessariamente nos mais óbvios. Afinal de contas, você não irá mais rápido tendo os profissionais mais claros: o que você precisa é ter os melhores.
No caso da JCDecaux, o uso de Inteligência Artificial, machine learning e ferramentas de análise de dados gerou mais eficiência e permitiu focar no que gera mais impacto para os clientes. Encerrando um ciclo de 3 anos de transformação do negócio, a empresa aprendeu que dados não são uma estratégia. “Os dados precisam fazer parte de todo movimento da empresa. Eles compõem a estratégia”, diz.
Fonte: OasisLab