Francesa Veja se torna marca cult de moda com um posicionamento sustentável e uma ideia fixa: agir segundo suas convicções e ser fiel a si mesma ao longo do caminho
Por Renato Müller
Uma marca nascida do desejo de dois jovens de fazer algo diferente, que trouxesse, acima de tudo, realização pessoal. A fidelidade a esse princípio, mantida há quase 20 anos, transformou a francesa Veja em uma marca cult, adotada por celebridades em todo o mundo. No Web Summit, o CEO da marca, Sebastien Kopp, mostrou o que está no alicerce do posicionamento da empresa.
“Nós nunca pensamos na nossa popularidade ou em ficar famosos. Até hoje, a gente não liga muito se nossos produtos estão sendo usados por A ou B”, afirma Kopp. “O que nos interessa é viajar, encontrar pessoas e fazer bons produtos para elas, a partir daquilo que é importante para nós”, conta.
Nesse caso, o “importante para nós” tem muito a ver com sustentabilidade. Muito antes do tema se tornar central para os negócios, a Veja fazia parcerias com fornecedores de algodão orgânico no Ceará e contratava pequenos produtores calçadistas no Rio Grande do Sul. “Construímos nossa marca passo a passo, sem pressa. Não queremos crescer rápido: queremos ser consistentes”, afirma Kopp.
O ritmo de crescimento distante da exponencialidade às vezes deixa os revendedores desesperados, mas tem suas vantagens. Em primeiro lugar, cria escassez, o que é um forte estímulo ao status de marca cult. Além disso, coloca menos pressão sobre o desenvolvimento de fornecedores de matérias-primas sustentáveis. “Crescer rápido não é sustentável, seja para as pessoas, as empresas ou para o planeta. Por isso, preferimos crescer no nosso ritmo”, diz.
A consistência que Kopp persegue, por sua vez, se manifesta de várias maneiras. No uso de fontes sustentáveis de energia e na busca por produtores orgânicos. Na ausência de ações de relações públicas ou de marketing. Na ausência de greenwashing. “Criamos a marca com base no que é importante para nós. Na verdade, as marcas não têm valores, as pessoas é que têm. A marca é uma expressão maior daquilo que os fundadores valorizam”, comenta.
Projetar seus valores e princípios no que se faz implica, muitas vezes, em ir na contramão do mercado. A Veja se recusa a fazer e-mail marketing, por exemplo. O motivo? “Odeio receber e-mails com publicidade”, revela Kopp. Razão semelhante o afasta do influencer marketing. “Não faz sentido eu dar de graça um produto para um influencer que tem total condição de comprá-lo em uma loja quando há tanta gente no mundo sem ter o que colocar no pé”, finaliza.