A Mastercard quer mudar como empresas e consumidores interagem com dados pessoais. Em outubro, a empresa lançou o Global Data Responsibility Imperative para abrir uma nova conversa com empresas e consumidores a respeito do uso de dados.
Esta semana, Dimitrios Dosis, presidente global de advisors da Mastercard, esteve no Brasil e conversou com Época NEGÓCIOS a respeito da iniciativa.
“Para nós, pensar sobre dados é um pilar fundamental de nossos negócios,” disse. “Dados pessoais pertencem a alguém. Não é um bem público.”
O projeto busca atender uma preocupação diagnosticada em uma pesquisa encomendada pela Mastercard com mais de 800 empresários e 2.500 consumidores de cinco países (Alemanha, Brasil, Espanha, Estados Unidos e Índia) sobre segurança e uso de dados. Entre os brasileiros, 94% disseram que privacidade de dados é de extrema importância. Por outro lado, apenas 34% dos consumidores brasileiros acham que empresas fazem bom uso de seus
Os princípios estabelecidos pela Mastercard em seu manifesto afirmam que dados pessoais pertencem ao indivíduo e que ele tem o direito de os controlar e, se assim optarem, os utilizar em benefício próprio. Cabe às empresas, por sua vez, protegerem esses dados.
“É uma questão de sustentabilidade, mas não a de plantar árvores,” afirma Dosis. “Ter o consumidor no centro de tudo que fazemos com dados é uma maneira de tornar o negócio mais sustentável.” Segundo a pesquisa, 71% dos brasileiros afirmou que não consumiria produtos ou utilizaria serviços de empresas que não protegem ou utilizam de forma ética seus dados pessoais.
“Não proteger dados deixou de ser uma opção. As empresas que não perceberem isso vão falir logo mais,” afirma.
Regulamentação como exemplo
Segundo Dosis, a inspiração do Global Data Responsibility Imperative veio do GDPR, lei de proteção de dados em vigor na União Europeia desde maio de 2018. “Na Europa, chegamos a uma epifania por meio de regulamentação,” disse.
O GDPR começou a ser escrito em 2012 e foi oficialmente aprovado 4 anos depois. Ano passado, entrou em vigor. O conjunto de leis regulamenta como empresas podem utilizar dados pessoais e obriga consentimento explícito do consumidor para que os dados possam ser utilizados por terceiros. Além disso, obriga empresas a colocarem medidas de proteção em cima desses dados.
A Mastercard, por exemplo, usa anonimização para que os dados sejam desassociados de seus clientes quando são transferidos.
O executivo afirma que a Mastercard já está formando parcerias com empresas, grandes e pequenas, a respeito da nova iniciativa. No entanto, nomes serão divulgados apenas em 2020.
Invertendo a relação consumidor-produto
Dosis enxerga maneiras de como essa nova política de uso de dados pode trazer benefícios ao consumidor. Ele afirma, por exemplo, que um controle maior sobre dados pessoais pode mudar a relação entre consumidor e o produto.
Como exemplo, ele cita um usuário consentindo ao uso de alguns de seus dados para uma pesquisa de mercado, em troca de algum benefício, como um voucher de compras.
“Nesse caso, o consumidor está controlando seus dados, ele está consentindo ao uso de dados e ele está se beneficiando,” disse.
Ele também usou de exemplo o que chama de “leilão-inverso”. Hoje, consumidores são bombardeados por propagandas de produtos que podem interessar. Em sua concepção, Dosis diz que seria o contrário: o consumidor usa os dados para achar o que quer.
Se tivesse comprando um carro, por exemplo, um consumidor poderia ceder seus dados a uma inteligência artificial. Esse sistema então encontraria as ofertas e modelos que mais encaixam com o perfil do cliente.
“O consumidor estará numa posição mais empoderada,” afirmou. “O novo comportamento coloca o consumidor de volta ao controle e democratiza economias.” Segundo a pesquisa, o uso consciente de dados pode movimentar mais de US$ 3 trilhões por ano, no mundo inteiro.
No entanto, Dosis afirma que ainda existe um pé atrás do consumidor a respeito do uso de dados pessoais por empresas. O Global Data Responsibility Imperative seria o começo de uma longa caminhada.
“Eu acho que é uma jornada. E a jornada começou anos atrás quando pessoas começaram a ver que dados geram valor,” disse.
“Se você acertar nas questões de segurança e garantir que consumidores possam controlar e se beneficiar de seus dados pessoais, acho que aí essa percepção (negativa) muda,” completou.
Fonte: Época Negócios