Na última semana, aconteceu em São Paulo, o APAS Show. O evento anual da Associação Paulista de Supermercados é um dos maiores eventos deste segmento atualmente. Gigantes do varejo participaram do evento para debater o futuro deste mercado, além de apresentarem soluções tecnológicas para melhorarem a experiência do consumidor, otimizarem recursos e inovarem em serviços e produtos.
O evento encerrou a edição 2019 com um total de 106.557 visitações, número 23,8% superior em relação ao ano passado. O evento recebeu 847 empresas expositoras, sendo 222 destas internacionais, de 19 países.
Um dos destaques desta edição do evento foi a Arena Inovação, que reuniu 19 startups do mercado varejista, para apresentarem soluções inovadoras que são o futuro deste segmento. Alguns dos conceitos mais relevantes para o segmento tiveram soluções expostas por startups durante a feira, como inteligência artificial, omnichannel, realidade aumentada, big data e muito mais.
“Observamos que uma das dores do segmento é a perda de uma venda porque o consumidor tem dúvidas sobre o uso do produto. Nem sempre há promotores de venda ali no PDV, mas o cliente sempre tem um celular na mão”, explica Ricardo Infantozzi, fundador da Centésimo, uma das startups presentes no evento, ao falar sobre a importância da realidade aumentada para o varejo a partir de agora.
Tecnologia para vender cerveja
Diversas grandes marcas apostaram em inovação e apresentaram novidades no evento. Uma delas foi o Grupo Petrópolis, uma das maiores fabricantes de bebidas do Brasil, detentora de marcas como TNT, Petra, Itaipava, Crystal, Black Princess, entre outras.
Em parceria com a Equipa PDV, o grupo desenvolveu uma geladeira inteligente para vendas de cerveja artesanal, que leva informação sobre os produtos expostos aos consumidores em uma tela, por meio do código de barras de cada garrafa. A geladeira também possui um sensor de reconhecimento facial, gerando um relatório sobre quantidade de vezes que a geladeira foi aberta, idade e sexo dos consumidores que se interessam pelos produtos e quantidade de pessoas que se aproximaram para conhecer a tecnologia.
“O nosso objetivo é trazer o cliente que já consome cerveja artesanal para o grupo Petrópolis, fazendo com que eles conheçam as cervejas da marca. Com as informações que a tela da geladeira inteligente proporciona, podemos definir um público-alvo diretamente no local de compra. Estamos, com isso, criando um business intelligence no ponto de venda”, explica Igor Siqueira, gestor de contas do Studio Prime Audiovisual.
Check-out inteligente no supermercado
A startup Gryfo também apresentou, durante o evento, uma solução que vai ao encontro de uma grande necessidade dos supermercadistas que querem inovar neste mercado. O Check-out Infinity Vision é um scanner de alta precisão, com sensores e suporte para instalação em todos os caixas com esteira.
Com a utilização de Inteligência Artificial desenvolvida pela startup, as câmeras inteligentes do check-out reconhecem os produtos não pelos seus códigos de barra, mas pelas cores, dimensões, formatos e padrões de suas embalagens. Com duas torres colocadas sobre a esteira do check-out, as câmeras são capazes de “ver” os itens por diversos ângulos, identificando-os individualmente e os registrando com alto nível de acerto.
O principal foco da solução é a prevenção de perdas por erros e fraudes. A utilização de check-outs desse tipo pode representar, no médio/longo prazos, uma considerável redução de custos para os varejistas. Além disso, o produto torna o processo de check-out mais ágil e rápido, reduzindo a intervenção humana e melhorando a experiência do consumidor.
Para onde o varejo está caminhando?
Um tema que foi destaque no evento foi o futuro do varejo. Marco Zolet, fundador da Supermercado Now – startup de compra online em supermercados -, bateu um papo com o STARTUPI e falou sobre as tendências para este mercado e necessidades dos consumidores de hoje, que estão cada vez mais conectados.
“O varejo é um meio que atua diretamente com o consumidor final, portanto, são inúmeras as possibilidades de inserção da tecnologia nesta relação. O que as grandes empresas do meio estão atentas é na atenção às necessidades do cliente. Não torna-lo um número, algo que a tecnologia facilita, mas tornar a relação mais pessoal. Além disso, o delivery segue como uma aposta e os serviços de entrega continuam em pauta”, explica.
Ele acredita que uma das maiores necessidades do comprador hoje são comodidade e automação. “Mas também não querem a extrema robotização do atendimento. O que tentamos fazer no Supermercado
Now, por exemplo, é tornar a plataforma cada dia mais intuitiva e veloz, mas ao mesmo tempo não abrimos mão das compras feitas via shoppers”, diz.
Para as startups deste mercado, Marco diz que é importante automatizar processos, mas sem abrir mão do contato pessoal com cada cliente. “Os empreendedores podem estar fazendo algo precipitado quando apostam na extrema digitalização de seus serviços. É preciso encontrar um equilíbrio para que seus negócios não fiquem descaracterizados.”
Para as startups de varejo, também é importante levar em conta a Lei Geral de Proteção de Dados, legislação brasileira que regula as atividades de tratamento de dados pessoais e que também altera os artigos 7º e 16º do Marco Civil da Internet.
“A lei tem muitas referências da GDPR, que foi instituída na Europa, e muita gente, assim como nós, já começou a se preparar para isso, mas constantemente estamos discutindo o tema com associações e pares do mercado, pois é essencial entender a aplicabilidade para o seu negócio. O importante para todos é se informar bastante e buscar parceiros que também entendam do tema e possam dar um conforto de estarem operando dentro dos parâmetros da LGPD”, completa.
Startups e o varejo online
Para as startups de varejo, o segmento é promissor. Na base da ABStartups, são quase 500 startups cadastradas deste mercado, e os investimentos nestas empresas também estão aquecendo este cenário. A Linx, especialista em tecnologia para o varejo, já adquiriu algumas retailtechs brasileiras.
“A Linx fez a primeira aquisição significativa há alguns anos, das startups Neemu, de Manaus e a Chaordic, de Florianópolis. As soluções delas são de busca para e-commerces e sistemas de recomendação, respectivamente. Aí, demos nosso primeiro passo para o mercado digital”, explica Giovanni Battistella, diretor de produto da Linx. Ao todo, as soluções adquiridas pela linx são ShopBack, Neemu+Chaordic e Percycle.
Giovanni acredita que várias grandes iniciativas do mercado digital nasceram dessas aquisições. “Alguns projetos estratégicos foram desenvolvidos por startups adquiridas. Juntas, a Linx possui a maior base de dados do varejo do Brasil”. Ele afirma que a companhia é atraída por startups que tenham diferencial forte em tecnologias como big data, machine learning, recomendação de produtos e processamento, por exemplo.
Sobre o mercado do marketplace no Brasil, o diretor acredita que o país está caminhando para se consolidar, no curto prazo, como um grande player.”Grupos como Via Varejo e Magazine Luiza apostam alto nesta tendência. Alguns grandes nomes também começam a criar marcas próprias para desenvolverem suas presenças dentro do marketplace, como a Amazon, por exemplo”, diz.
Outra tendência que ele cita são dos grandes varejistas apostarem em um único canal de contato com o cliente. “O consumidor quer ser entendido como uma pessoa única. É importante dar atenção à jornada de compra do cliente, se quiser torná-lo fiel. Aí, o e-commerce tem uma oportunidade gigante para essas startups. Há muito tempo se fala na omnicanalidade, mas há poucos anos, de fato, se tem feito algo sobre isso.”
Experiência do consumidor
Falando em canais de comunicação com o cliente e jornada do consumidor, o Reclame Aqui também está apostando neste mercado cada vez mais. Há quatro meses, a empresa adquiriu a Trustvox, startup de reviews confiáveis fundada por Tatiana Pezoa.
O objetivo do Reclame Aqui, com a aquisição, é que sejam atendidos 65% dos 700 mil consumidores que visitam diariamente a plataforma e que buscam histórias de outros consumidores para gerar confiança – ou não – na marca. O site é uma das principais referências no país quando se trata de autoridade e confiabilidade em diversas marcas, principalmente as varejistas.
“Somos a maior plataforma no mundo em relação de consumo e reputação de marcas. Nossos milhões de consumidores e milhares de marcas contam suas histórias diariamente e através da avaliação dos consumidores estabelecem uma reputação que influencia a confiança em milhões de pessoas todos os anos”, explica Edu Neves, CEO Brasil do Reclame Aqui.
Fonte: Startupi