Para Edward Snowden, empresas de tecnología e governos não têm interesse em ter uma relação ética com os dados das pessoas
A visão de Edward Snowden sobre o mundo da tecnologia é sombria. Para ele, as big techs se tornaram gigantes incontroláveis que não assumem a responsabilidade por seus atos, com a anuência dos governos com os quais têm uma relação promíscua, para dizer o mínimo. Foi essa percepção que o levou a se levantar contra o sistema de inteligência americano. Exilado na Rússia, ele falou via videoconferência para o publico que lotou o Centre Stage na abertura do Web Summit.
Para Snowden, a tecnologia é uma amplificação do poder individual e, por isso, tem que ser democrática. Governos e empresas, porém, criaram uma situação abusiva, concentrando poder em suas mãos e evitando prestar contas ao público. “Como policiar a expressão desse poder quando ele é usado contra as pessoas?”, questiona.
A resposta, segundo ele, está, em primeiro lugar, em reconhecer o problema. Algo que a legislação atual não faz. “A GDPR tem algum mérito, mas vê toda a questão de forma equivocada. O problema não é a proteção de dados, é sua coleta”, afirma. A GDPR, para Snowden, parte do princípio de que as informações coletadas são usadas de forma ética pelas empresas e só existem problemas quando os dados são roubados. O que não é necessariamente verdade, como a Cambridge Analytica deixou muito claro.
Além disso, a lei pode ser muito bem um “tigre de papel”. “A ideia de taxar as empresas em 4% do faturamento no caso de uso impróprio de dados é boa, mas só vai funcionar se ano após ano as empresas forem multadas”, diz. Só faltou chamar de utopia…
A solução é fazer com que as pessoas entendam que os dados são uma representação delas mesmas. “Dados não são abstratos. Todos os dados são sobre as pessoas. Não são dados que são explorados: vocês é que são”, afirma. E como hoje as pessoas não detêm seus próprios dados, a implicação de Snowden é que o público está apenas sendo usado pelas grandes corporações e governos. “A lei não pode te proteger, nem as empresas de tecnologia. A única forma de proteger alguém é proteger todo mundo, com dados encriptados em toda a internet”, completa.