É evidente que o que acontece na macroeconomia interfere no mercado de venture capital. Só que de maneira correlata e indireta, uma vez que os investidores e Limited Partners (LPs) de Fundos de Investimentos são impactados pelos reflexos econômicos em seus negócios;=, consequentemente, eles passam a ter maior cautela e grande aversão ao risco.
Se o fundo estiver em captação neste momento, pode ter dificuldade em captar aportes. Por outro lado, as startups já investidas do portfólio de um fundo, embora sejam investimento ilíquido – na grande maioria dos casos – demonstram tranquilidade, segurança e continuam apresentando taxa interna de retorno (ou taxa interna de rentabilidade, IRR, em inglês), atrativo para os seus investidores. Por serem empresas que operam e dão resultado, demonstram maior imunidade às oscilações de mercado.
O cenário mundial dos negócios já passou por diversas crises e as startups se mostraram resistentes e resilientes graças ao seu crescimento exponencial e melhores retornos pós-crises. Apesar da crise global causada pelo novo coronavírus não ter precedentes e não sabermos ao certo o que irá acontecer, observamos, ao longo da história, que diversas grandes empresas de hoje foram criadas nos moldes das startups em momentos de pura adversidade, como Airbnb, Uber, Zoom e tantas outras. Porque é justamente nestes momentos que empreendedores incomodados e insatisfeitos enxergam as oportunidades e desenvolvem alternativas e soluções para os problemas eminentes.
Startups e momentos de extrema incerteza
Os empreendedores brasileiros são resilientes, desenvolvem modelos de negócios enxutos, digitais e escaláveis, trabalham em espaços colaborativos e home office – em tese, fazem muito, com muito pouco. Por isso, o impacto das mudanças e o reflexo da crise costumam ser bem menores nessas empresas.
Em relação ao Covid-19 fomos abatidos por duas grandes ondas iniciais: a primeira grande onda da pandemia é a da saúde, que neste momento exige luta e adaptação. Passadas algumas semanas, vivemos em paralelo a segunda onda, que já vem arrasando parte da economia. Empresários e investidores estão se sentindo incomodados e assustados com o tamanho do estrago e com o que ainda vem pela frente.
E olhe que interessante. Na pesquisa “O Investimento Anjo na Crise do COVID-19” realizada em abril de 2020, com 315 respondentes, sendo 85 empreendedores, 186 investidores Anjos, 4 investidores late-stage e 40 diversos, foi elaborada pelas redes de investidores-anjos PoliAngels, GVAngels e FEA Angels.
Ela mostrou que na opinião de 51,87% dos participantes a crise não afetou sua pré-disposição em investir em startups, que continua a mesma independentemente da crise. Quase 6% responderam que pelo contrário, aumentou a vontade neste período. Além disso, quase 44% ainda informaram que fecharam algum deal nas últimas três semanas.
“A pesquisa mostrou ainda que, neste momento, os empreendedores esperam conselhos estratégicos e mentorias, tanto quanto suporte financeiro”
Talvez, um dos motivos que explique é o fato de 45,28% informar que a crise não vai afetar seu faturamento em relação aos próximos seis meses e 94,34% afirmarem não ter previsão de demissão na empresa. De fato, nossas startups parecem estar “blindadas”.
“Ressaca positiva” no pós-crise
Uma terceira onda para ficarmos atentos no pós-crise é a da saúde mental. Ainda assim, muitas startups estão fazendo a diferença para os brasileiros nas duas primeiras ondas. Na saúde, diversas soluções vêm sendo apresentadas à sociedade por meio de iniciativas colaborativas como a STARTUPSVCSCOVID19 e SOSCOVID19.
Outras startups impactam a economia, atendendo e ajudando diretamente as pessoas e os negócios a não se afogar e continuar operando, seja via delivery, e-commerce e por diversos meios, ferramentas, plataformas e serviços digitais.
Não tenho dúvida de que os impactos da Covid-19 e do alongamento do confinamento deixaram o mercado de venture capital apreensivo e, obviamente, mais lento. O foco mudou rapidamente para o apoio ao portfólio e um cuidado redobrado com as startups investidas.
Na Bossa Nova Investimentos, por exemplo, a orientação para as nossas startups se dá no sentido de redução geral e controlada de custos, apoiando com mentoria especializada e, eventualmente, soluções financeiras. A ordem é zerar o burnrate e voltar ao breakeven, até passar a tempestade. A boa notícia é que não corremos riscos de perder investimentos (writeoff) nesse período.
Por outro lado, não paramos de investir e não desaceleramos. Ao contrário, em março, mesmo durante a quarentena, fizemos seis novos investimentos em startups, como a FrameFy, Repassa, Wellbe, Numenu, Trakto e 4 Student e ainda temos mais quatro investimentos em andamento.
Acreditamos em uma “ressaca positiva” no pós-crise e um 2021 produtivo e rentável, com vários exits acontecendo. Assim como a Bossa Nova, muitas casas de investimentos em startups e investidores- anjo declararam publicamente que continuam investindo durante a quarentena. A maioria afirma que está em home office, embora operando e analisando oportunidades de investimento.
Isso mostra que o mercado não parou. E isso é uma sinalização importante para o mercado de investimentos e para o ecossistema brasileiro de startups.
Aliás, investidores de fundos (family offices e LPs) sabem que, com essas taxas de juros, volatilidade nas bolsas, dólar subindo e mercado incerto em todos os sentidos, terão de alocar mais em investimentos menos líquidos. Percebem a importância dos relacionamentos de longo prazo, dos aprendizados e principalmente que podem agregar valor às startups early stage com capital intangível, assim como capital financeiro.
Temos uma grande safra de empreendedores no Brasil, com startups bilionárias e somos o quinto mercado global em tecnologia. Governo, legislativo, academias, entidades e grandes empresas definitivamente entendem a importância das startups. Até por isso, entendo, não será essa crise, sem desprezar a força de destruição do coronavírus, que irá abalar o mercado de venture capital.
11 pontos fundamentais para investimento em startups
Para quem não está familiarizado com as startups, seguem alguns fundamentos de investimento nessa classe de ativos:
1. As startups possuem negócios mais resilientes em momentos de incertezas;
2. Ativos de capital intangível tendem a apresentar performance melhor;
3. O ciclo e jornada de uma startup (do zero ao bilhão) é de, em média, oito anos. A exemplo da 99, Gympass, Nubank, Stone, Uber e Zoom, entre muitas outras;
4. Menor competição, considerando especificidades dos serviços e empresas de base tecnológica;
5. Pela disseminação da cultura de uso em detrimento da posse, tanto no segmento corporativo como de pessoa física;
6. Baixo endividamento, baixo custo e alta performance;
7. Alta aderência a conexões, integrações, adaptações ao mercado;
8. Modelos de negócios enxutos, digitais e escaláveis;
9. Já adaptadas a trabalhar em home office;
10/ Promovem o impacto social e resolvem problemas urgentes; e
11. Muitas startups com soluções para combater a crise e a Covid-19.
Por tudo isso que acabo de comentar e argumentar, agora é hora de investir em negócios inovadores que resolvem problemas existentes e urgentes.
“Acredito que as ações e os resultados das startups durante a crise vão ser reconhecidos como soluções mais acessíveis, eficientes, baratas e também consistentes”
Como consequência, sairão desse período com a imagem consolidada de empresa seguras, de impacto social e, obviamente, opção mais tangível de investimento. Importante ressaltar que não sou analista de investimentos ou acadêmico. As análises deste artigo refletem a minha opinião e não são garantia de retorno futuro.
Esses tipos de investimentos envolvem altos riscos e variam de caso a caso, onde a rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e podem ensejar perdas, inclusive da totalidade do capital investido. Antes de investir procure entender as regras e regulamentos da Comissão de Valores Mobiliários do Brasil (CVM).
Fonte: Whow