Para Fabia Pires, sócia diretora da Varese Retail, a transformação digital tem mais a ver com uso de dados do que com omnichannel
Durante a NRF Big Show, maior evento de varejo do mundo, o OasisLab conversou com varejistas, fornecedores, investidores e especialistas em varejo para entender o momento da transformação digital no Brasil e como as empresas estão se posicionando no mercado. O estudo RetailTech Mining Report 2019 traz várias entrevistas, mas algumas você lê somente no site do OasisLab.
Nesta entrevista, Fabia Pires, sócia diretora da Varese Retail, afirma que a transformação digital está muito mais ligada ao uso de dados para ganho de eficiência operacional do que à integração de canais. Ela também aponta onde estão as grandes referências mundiais em transformação digital. Confira:
Qual é sua visão sobre o momento atual da transformação digital no varejo?
Fabia Pires – Em relação à transformação digital das lojas físicas, tenho 2 pontos principais. O primeiro é que o varejo ainda não entendeu a amplitude desse movimento. A transformação digital vai muito além de iniciativas de integração de canais. O que se vê muito é pick-up in store, troca em loja, venda na loja para receber em casa, esse tipo de iniciativa. A transformação digital, porém, vai bem além disso e tem muito a ver com o uso de dados para ganho de eficiência operacional e experiência de loja.
Isso a gente só vê acontecer na China. Mesmo nos EUA o varejo ainda está aprendendo a entender tudo isso, mas a China é a grande referência. Os dados gerados pela loja e outros canais impactam no layout, no sortimento, na expansão, na precificação dos produtos, e aí estamos falando em uma transformação digital de fato.
Como as startups podem contribuir para a transformação digital do varejo?
Fabia – As startups são grandes aceleradoras de todo o ecossistema. Pelo fato de não terem um sistema imunológico e um legado, já enxergam o mundo como digital, em vez de fazer ajustes em sistemas analógicos para tentar torná-los digitais. As startups têm um papel super relevante em um momento em que as empresas estão se digitalizando.
Se as empresas tentarem fazer toda essa jornada por si mesmas, não irão conseguir, pois precisam entregar resultados de curto prazo e as startups conseguem se plugar a esse sistema e acelerar os resultados. O grande desafio é conseguir distinguir, em um mundo de tantas oportunidades em que muitas startups estão apostando, quais iniciativas são coerentes e escaláveis, e quais não são tanto assim. Do ponto de vista das startups, elas também precisam entender o jogo do varejo para que todos consigam fazer essa jornada de transformação digital.
Quais são os principais desafios do varejo na transformação digital?
Fabia – O principal deles é a questão da liderança, cultura e modelo organizacional. Vemos muitas empresas que são analógicas tentando se digitalizar e, nesse processo, simplesmente digitalizar os processos como eles são hoje. Isso não funciona. No mundo da transformação digital as regras são outras e é preciso reinventar processos. Isso só vai acontecer quando houver um trabalho de change management, de mudança de cultura, para que essa transformação seja viabilizada. Esse, para mim, é o principal desafio.
Fonte: Redação